A MOÇA DA PONTE - BVIW
A mudança para a casa da colina fora um pouco precipitada e Dona Georgina já estava pelo pescoço em preocupações. O marido ia trabalhar de carro e ela para qualquer coisa ficara com os pés, e dali, atravessar a ponte e rumar para o vilarejo se precisasse. Não bastasse isso e o sol na cabeça, a filha cismou que pintar a ponte de rosa seria mais acertado. – Que mal teria em continuar azul? E se ela fosse lá e pintasse de rosa, o que poderia acontecer? – Não! Ela não permitiria aquilo.
Entre as razões apontadas pela filha, tinha até a quantidade de habitantes femininos. – De onde ela tirava essas coisas? E foi tanto o blá blá blá sobre igualdade de direitos entre outros feministas, que ela ficou feliz do seu Arnaldo não estar lá ouvindo aquilo, que a coisa não ia prestar. Ele diria: - eu te disse que era melhor casar logo essa menina que pagar estudo demais! Estudo demais dá nisso! Eram tantas as ideias de Nildinha que o melhor era o marido não saber. A culpa sempre sobraria para ela, por ter concordado com a filha em namorar menos e estudar mais.
Não demorou para a família ser a mais conhecida ou a mais suspeita da vila. Tão logo o chefe da família ia para o trabalho, uma moça aparecia na ponte e por lá ficava com uma cestinha de pincéis e tintas. Aparecia e desaparecia. E começava o mistério de quem seria a medida que florzinhas coloridas iam substituindo o azul nem tão desbotado da ponte. – É você quem tem feito aquilo filha? – Não! Não eu exatamente, mamãe. Talvez indiretamente. – Como assim? – Eu diria que são poderes. Poderes de estar lá, poderes de estar aqui, poderes de aparecer e sumir... -Certo, filha! Se eu tiver um treco e morrer, você diz ao seu pai que foi por falta de poderes. Mas não conte a ele sobre os seus não. Pelo amor de Deus não conte não!