CONTOS DO TEATRO HUMANO - Dona Guidinha do Poço
CONTOS DO TEATRO HUMANO
Maria Francisca de Paula Lessa
Haverá flagelo mais terrível do que a injustiça sem a formação de culpa? Com testemunhas sem nenhuma credibilidade perante um Tribunal parcial?
Maria Francisca de Paula Lessa era a terceira dos quatro filhos de José dos Santos Lessa, capitão-mor da então vila de Campo Maior de Quixeramobim. Não há registro de seu nascimento, somente o seu batismo ocorrido em 11 de abril de 1804 na Matriz de Quixeramobim.
Em 30 de junho de 1827, aos 23 anos de idade, casou-se com Domingos Vítor de Abreu e Vasconcelos, natural de Goiana, Pernambuco, comerciante de cavalos. Em todos os livros publicados até hoje, afirmam que o casal não teve filhos. O mais próximo da realidade é o livro do historiador Ismael Pordeus, que escreveu “A Margem de Dona Guidinha do Poço” em 1963, mas, também não menciona filhos.
Em pesquisa encontramos na Diocese de Quixadá – Paróquia de Quixeramobim, Nª 05 de 2/1/1844 a 24/08/1859 – folhas 116v – 117, a certidão de casamento de Felizometha da Corte Celeste de Abreu Lessa, ocorrido no dia 13 de janeiro de 1854. Nela ainda consta, que foi deixada na fazenda de Maria Francisca de Abreu Lessa e Domingos Vítor de Abreu. Portando, podemos concluir que tiveram uma filha adotiva.
Em setembro de 1853, Maria Francisca foi acusada de ter assassinado o marido e segundo os historiadores foi condenada a 30 anos de prisão.
Essa condenação não condiz com a verdade. Segundo ofício à época dirigida ao Delegado de Quixeramobim, vindo do Tribunal de Pernambuco sobre a prisão, ele respondeu que ela foi solta depois de cumprir 20 anos de prisão. Portanto, não cumpria pena de 30 anos.
Ainda falam que o Tribunal de Pernambuco aumentou a pena. Não é verdade. Houve três recursos: Um de Ação de Graça e dois Habeas corpus.
O crime e o julgamento
O processo não mais existe. A reconstituição foi coletada pelos jornais da época.
Não houve uma testemunha ocular. Somente a confissão do assassino, parente do Coronel Abreu, que jogou a culpa em Francisca Lessa.
A toque de caixa, sem a formação de culpa foi julgada e presa.
O que se nota nos jornais é muito sensacionalismo sem nexo. A maioria em defesa do marido morto. Outros da mulher presa por injustiça, por falta de elementos.
Desse imbróglio veio à toca o romance Dona Guidinha do Poço de Oliveira Paiva, que relata os fatos trocando os nomes e tratando Maria Francisca de Paula Abreu Lessa, como uma mulher “macho”. O livro até merece seus créditos.
Dizem ainda que, Maria Francisca ficou presa sem visitas de parentes.
Não é verdade!
A filha de criação, de Felizometha da Corte Celeste de Abreu Lessa, esteve sempre presente com a mãe.
Seus descendentes confirmam a versão de Maria Francisca de Abreu Lessa que afirmou não ter matado o marido.
Felizometha, a filha, passou a vida a abonar essa versão: “Minha mãe não estava no local no momento do crime. Até quis testemunhar, mas fui impedida pelo simples motivo de ser filha “bastarda”.