Lua engolida

As imagens são superfícies que pretendem representar algo. Em geral, algo que já existe lá fora, exposta no tempo e no espaço. No fundo, as imagens são resultantes de um esforço de abstrair duas das quatro dimensões espaciotemporais. Imaginar a lua engolindo algo, como uma senhora gorda e faminta... E, a devorar os amantes em seu lirismo profundo. Nossa imaginação é uma capacidade de codificar fenômenos de quatro dimensões em símbolos planos e símbolos puros e, apresentar-lhes sentido. Qual é o sentido da lua? É um satélite. Um corpo celeste que gravita em torno de outro, chamado de principal. Satélite é secundário. Mas, meu olhar para lua não é. Somos como luas devotadas a acompanhar os planetas, sendo cúmplices de intenções veladas e, pior, de práticas ortodoxas ou não. A lua minguante ou quarto minguante é o último estágio das fases da lua. Seu significado pede menor esforço, menos atividades, menor tensão e estresse. É um chamado para o recolhimento. Mas, as uvas lá fora precisam ser colhidas. Mas, as pessoas lá foram precisam ser cativadas e, o pensamento aqui dentro precisa semear alguma filosofia. Porque viver é preciso, já pensar, só as vezes. Eu devoro as luas como fossem biscoitos da sorte, tenho que decifrar-lhes o significado. Leio suas crateras, vejo São Jorge passeando com sua cavalo branco e, a matar mil vezes dragões, cada vez mais dóceis. É inexplicável sua beleza distante e, sua pungente presença, mesmo quando não tão aparente. A noite acabou nem digeri a lua engolida. Talvez, o protagonista faleceu. Talvez, o vizinho mudou. Talvez, o afeto tenha fenecido. Mas, a lua está lá, a contemplar passiva a todas iniquidades de todos. Em plena digestão universal.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/02/2021
Reeditado em 07/02/2021
Código do texto: T7174648
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