Sob o céu estrelado - BVIW
A órfã Josefine nasceu com um dom de cantar, tinha uma voz doce e mágica, mãos delicadas, cabelos dourados e uma tristeza sem fim. Toda noite, num banco da praça dormia acordada, e sonhava com um colchão macio e lençóis quentinhos. O frio não deixava por menos, fazia seus ossos tremerem. E para passar o tempo, conversava com sua fiel amiga de jornada, a pequena Doroty. – Um dia teremos uma casa grande e bonita, com dois quartos e uma lareira, não é, Doroty? E Doroty com os lábios roxos de frio, rebateu: - Mas uma casa grande não tem só dois quartos. Tem muitos. Você não pensa em encontrar seus pais, Josen? A lua engoliu minhas palavras, pensou Josefine. A lua era testemunha dos namorados e dos desafortunados, saiu de trás das nuvens e começou a brilhar. Salvou a noite e Josefine de falar sobre algo que afligia sua alma. Passou poucas e boas nos lares adotivos e resolveu ser senhora do seu destino. Tornou-se dona de um banco na lagoa do Abaeté, e ninguém depositava seu corpo nele. Aos treze anos de idade perdeu sua inocência, assim com a esperança. E para esquecer sua desventura em série, cantava nas noites de lua cheia. Mas Doroty parecia não esquecer o assunto, insistiu mais uma vez: - Josen, não precisa ter medo, o que houve com seus pais? Não gostaria de conhecê-los? Um silêncio foi instalado, a lua minguou e a resposta veio. – Bem, hã, hã, sou fruto de um amor proibido. - Proibido tipo Romeu e Julieta? - Mais ou menos, Doroty. Proibido de existir, pois meus pais eram muito jovens, não tinham um tostão, moravam sob o céu estrelado, e a overdose tirou eles de mim.