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25/01/2021 – 17:15 – Segunda Feira

Não é sobre mim. Nunca foi um possível epílogo, esses pequenos textos nadas – vazios como a velha sala – servem apenas para na tentativa imagética: alguém entre no recinto e diga banalidades sobre essas poeira que cobrem os móveis livros imagens riscadas na parede ou essas inventivas de linguagens que só funcionam na cabeça de alguém que não sou eu, porque me nego, porque não procuro vestígios de existência nem na sala quarto cozinha e essas edificações. Simples pedaços rasgados da natureza que demonstram a cada dia a decadência de que ali, lá, vivem, ou pressentem que vivem ou imaginam que vivem. Do que servem os livros quando alguém morre, aquele livro que você não leu, aquele livro esquecido na sala empoeirada, nunca aberto, serve para um ou outro – talvez eles sejam os inexistentes não eu – sim, como dizia, os inexistentes digam coisas belas, coisas tendenciosas soarem profundas, um rasgo, um grito, um vestígio de tantas mortes. Perde-se a conta, a vida bate e esse amoutado de referências enxergadas em cada base, alicerce que sustenta a casa onde não vivo, onde não existe, e que talvez, no mais indevassável eu exista: eles não. Eles poderiam lembrar, cautelosos, pragmáticos, sobre belezas em suas cabeças, projeções que fariam da pessoa morta – ou que eles enxergam como morta dentro daquela casa.

Uma casa.

Pensei de um jeito esquisito sobre essas memórias, e me pergunto o que me leva a chamar de memórias coisas que considero morta, como os livros, a casa, as paredes, as fotos e as pessoas, nos encontramos tão demasiados mortos ao nosso modo. E creio, alguém, um desses falou sobre famílias serem infelizes ao seu modo, mas que todas o são, infelizes.

Preso em espaços brancos beirando ao translúcido, noto que não infelizes, palavra para quem vive, para quem não entende de dramas, não, dentro daquela casa eles eram inexistentes cada qual a sua forma.

Nada de grave, nada de grave em se transformar em memória, notei agora, afinal, algumas seriam bonitas e se vocês puderem se projetar em músicas e, enfim, abrir os livros, amiúde, pequeno gesto sem deus, se formaria um tipo de: alegria, que não teria fins violentos, mas um certo triunfo de um dia conseguirem dizer: é, ele existiu.

Porém, repetidos em tantos conectivos ruins, percebi, também eu sou pedante, não liguem, não notem, no fim: todos estamos bem, muito bem, demasiado bem: fechados em lugares sem vida, sem ar, sem luz, sem fôlego: o corpo, esse martírio que carregas.

Jailson Anderson
Enviado por Jailson Anderson em 25/01/2021
Código do texto: T7168514
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