Uma das diversas Estórias das Histórias

As duas crianças chegaram correndo até os abraços da avó. Era sempre assim quando iam visitar a velhinha. Elas amavam! E ela, a senhora, ela amava mais ainda. Não sabia explicar, mas sempre que via aquelas duas criaturinhas lindas, apaixonadas, com gigantescos sorrisos no rosto seus olhos se enchiam de lágrimas quase que invisíveis, de tanta emoção que sentia em ver a si mesma naquelas crianças. Quando olhava para aquela garotinha e para aquele rapazinho conseguia enxergar seu passado, mas ao mesmo tempo enxergava um novo futuro de possibilidades. Eles eram iguais a ela. Mas também, eram diferentes. E isso, isso é incrível!

- "Vó conta uma história pra gente!"

- "Vocês sempre querem que eu conte histórias pra vocês, né? Qual história vão querer dessa vez?"

- "A história da Yudjá e do Tamariko!"

- "SIM! Essa mesma vovó!" - respondeu o menino.

Isso era o que elas mais amavam na casa da avó. Com certeza também amavam os doces e as guloseimas que ela sempre preparava. A torta de limão então, hummm, nossa senhora das vovós que fazem doce, que delícia é essa torta de limão! Mas o que eles sempre mais aguardavam, desde o momento que saiam de suas casas, entravam no uber e desciam do carro pra entrar na casa da avó eram as histórias! As maravilhosas histórias que a senhorinha tinha pra contar.

- "Mas de novo vocês querem escutar a história da Yudjá e do Tamariko?"

- "SIIIM VOVÓ!"

- "Mas por que?"

- "Essa história é a melhor de todas vovó! Eu amo ouvir como Yudjá e Tamariko enfrentaram os bandidos, fizeram armadilhas e venceram o mal!" - disse a menina. - "Eu queria ter conhecido a Yudjá e o Tamariko vovó. Ia ser tão legal se existissem heróis assim na vida real."

- "E por que acha que eles não existem, minha florzinha?" - perguntou a avó.

- "Existem vovó?" - perguntou o mais novo.

Dona Zilda começou: Ah meus amores, como eu já contei uma vez para vocês, eu vou repetir; Yudjá e Tamariko viveram aqui na nossa terra a muitos e muitos anos atrás. Viveram numa época onde ninguém imaginava que as pessoas iriam conversar por celulares, smartphones, smart isso e aquilo. É o que eu sempre digo pra vocês também; hoje tudo é smart, mas naquela época tudo era esperto! A história de Yudjá e Tamariko é tão antiga mas tão antiga que é mais antiga do que eu.

As crianças dão muitas risadas.

- "É mais antiga que o seu avô, né vovó?"

Zilda diz: É, é bem mais antiga que o meu avô. Mas ouçam bem crianças: essa história é tão antiga, mas tão antiga, que é impossível da gente esquecer dela. O hoje, meus amores, é feito do passado. E a forma como olhamos para o passado é que vai mostrar qual o caminho para o futuro, por isso o que vivemos no agora chamamos de presente. Porque presente é aquilo que nos dão sem sabermos o que é, mas é nosso e só a gente sabe o que fazer com aquilo. E a Yudjá e o Tamariko em pessoa, podem já não existir mais, assim como as avós das avós de vocês. Mas isso é porque a história da Yudjá e do Tamariko aconteceu a quase 500 anos atrás. Mas assim como vocês estão aqui, os netos dos netos de Yudjá e de Tamariko também estão vivos e andando pela terra. E sabem o que mais?

- "O que vovó?"

- "Os netos e as netas de Yudjá e Tamariko não só estão vivos e vivas, como também ainda estão lutando contra os invasores das suas terras e salvando ela e seus amigos e familiares igualzinho Yudjá e Tamariko uma vez fizeram."

- "Isso você nunca tinha contado pra gente vovó."

Ela continua: Ah, é que ás vezes posso esquecer algumas partes. Mas voltando a história. Yudjá e Tamariko é uma Estória da História. Uma das diversas Estórias das Histórias de guerra. Guerra. Guerra que vivemos até hoje. Naquela época alguns dos povos que viviam aqui no que a gente chama de Brasil diziam que o mundo seria perfeito se o mundo fosse uma terra sem mares. Uma terra onde só existisse planta, terra e os rios.

Um dia, ao contrário do que muitos acreditam, lá em Lisboa, em Portugal, num dia de muita chuva e muito frio, o rei disse para o capitão da sua frota de navios partir! Disse que ele e seus homens tinham que entrar nas suas caravelas, que eram enormes navios de madeira que andavam pelo mar a partir do empurrão que o vento dava, e que deveriam enfrentar as águas do mar e só retornassem depois que chegassem nas terras que chamamos hoje de América. O mar naquele dia estava muito mas muito tempestuoso.

- "O que é tempestuoso, vovó?" - perguntou o menino.

- "Ah, a vovó já explicou isso mil vezes." - disse a menina. - "É porque naquele dia tava com muita tempestade no céu. Sabe, quando cai muito raio em dia de chuva. Então, tava assim! E quando o céu fica assim o mar fica muito agitado, as ondas ficam tão gigantes que até os animais que moram no mar fogem da onde tá acontecendo a tempestade."

- "Exato, exato." - responde a avó.

Zilda prossegue: Como ela disse, querido, o mar estava muito agitado que até os animais estavam nadando em outras direções. Era como se o próprio mar não quisesse que aqueles homens embarcassem nos navios e seguissem a sua jornada. Mas o rei, orgulhoso, arrogante e ganancioso que só ordenou que todos aqueles homens; moribundos, apavorados, famintos e quando minha mãe me contava essa história dizia até que fedidos, entrassem nos navios e seguissem ao mar aberto. Aqueles homens seguiram as ordens do rei, tremendo de medo, quase fazendo cocô nas calças, mas preferiram obedecer o rei do que obedecer o mar.

- "Vovó como esses homens conseguiram nadar o oceano todo até aqui se eles eram tão nojentos e medrosos como você diz? Eles eram muito bons em navegar nos mares?"

- "Oh meu amor, eu também sempre fazia essa mesma pergunta pra minha mãe quando ela me contava essa história. Na verdade é que até que sim, eles até que sabiam como navegar pelos mares. Esses povos já viveram muitas coisas no mar. Eles tem muitas e muitas histórias de longas viagens de navios pelo oceano. Histórias deles atravessando de uma terra até a outra. Histórias deles contrabandeando alimentos, matérias primas de outros povos como ouro, prata, pérolas e outras riquezas. Contrabandeando e sequestrando até pessoas de outros lugares do mundo. Esses povos da Europa tem muitas e muitas histórias de coisas que fizeram no mar. Até lutar guerras no meio do mar e histórias de irem atrás de baleias para matá-las eles têm. Mas acontece meus amores, é que tudo isso que eles fizeram, todo esse conhecimento de como andar pelos mares que eles conquistaram, tem um preço, um preço muito mas muito alto. Eles conseguiram esse conhecimento por ganância, através da vontade de querer destruir e se tornar o mais poderoso, eles conseguiram esse conhecimento dos mares através da vontade de possuir, através da vontade de roubar e isso trás um preço. Muitos e muitos europeus morreram durante todas essas histórias. Ao final de cada um desses feitos pouquíssimos voltavam vivos. Hoje eles contam como se isso tudo tivesse sido muito glorioso. Mas não foi! Muitas embarcações deles naufragaram no meio do oceano. Eles, meus amores, começaram então a inventar histórias de monstros, culpando as baleias, por exemplo, culpando elas por derrubarem seus navios e dizendo que esses enormes mamíferos que vivem no mar eram grandes e ferozes monstros. Mas isso é mentira. Eles que iam para o mar querer matar esses animais, não o contrário. Essas são outras histórias que posso contar depois, se vocês quiserem, mas é muito importante saberem que sim, eles com o tempo tiveram um domínio sobre como cruzar o oceano, mas esse conhecimento não foi usado para o bem. A natureza não está aqui para nos servir, e quando isso acontece, meu queridos, apenas histórias de dor e morte conseguem ser contadas.

Mas voltando a Yudjá e o Tamariko, nem cheguei na parte deles ainda. Enfim, no final das contas um monte, dezenas, centenas, milhares de navios saíram do porto de lisboa e partiram rumo ao horizonte e ficaram vários, vários e vários dias olhando para a esquerda e só vendo água, olhando para a direita e só vendo água, olhando para trás e só vendo água, e quando olhavam para frente, também só viam água. Estes homens passaram muitos e muitos dias olhando para um céu lindo como se fosse um tapete cheio de estrelas brilhantes e luminosas, mas também passaram muitos e muitos dias com um frio lascado, sem um cobertorzinho se quer para ajudar a esquentá-los. Passaram muitos e muitos dias vendo os peixes e os golfinhos bonitinhos, fofinhos, pulando na frente do navio igual naquele filme lá que o navio afundou; mas passaram também muitos e muitos dias sem comer nada, com fome e com sede. Passaram muitos e muitos dias num navio cercado por água, mas passaram muitos e muitos dias sem tomar banho. Alguns deles, alguns deles não, vários deles, todos eles, ficaram com febre, começou a surgir perebas nos seus corpos, uns machucados, umas coisas nojenta no seu corpo inteiro, aííí, vários morreram de fome e doença e foram jogados no mar pelos próprios companheiros de viagem, para eles o objetivo da missão, da missão de colonizar, era mais importante que a vida de seus irmãos e irmãs. Vários deles vomitavam durante dias e noites e se eu tivesse lá eu já ia falar:

- "Sai de perto de mim seus nojentos, com a mesma mão que tu coça o bumbum, tu limpa o salão, tu descasca o palhaço, pega na comida e ficam a noite inteira reclamando que tão com dor de barriga e o balanço do mar te deixa enjoado! Oras bolas, por que será, em?"

Mas, por sorte deles, três… três navios conseguiram chegar a um pedaço de Terra, que na verdade era um grande pedaço de terra, muito, mas muito, mas muito, MAS MUITO maior do que o pedaço de terra da onde eles tinham vindo. Aquela terra era toda ensolarada, verde, saudável, viva, bonita, mas começou a receber fortes nuvens carregadas de chuva, nuvens cinzas, com trovões e relâmpagos acompanhados de um forte vendaval frio, frio, muito frio que vinha do mar. Quanto mais o navio se aproximava, mais o tempo fechava. Quando os portugueses pisaram nesse chão a primeira coisa que fizeram foi colocar bem firme os dois pés no chão, olhar para tudo aquilo e dizer: Aí, eu to enjoado. E desmaiaram.

Esta terra, meus amores, é aqui. Onde atualmente chamamos de Brasil e nesta terra já existia centenas, milhares, milhões de pessoas já morando aqui. Diversos povos, etnias, dialetos, cultura, enfim, uma diversidade de histórias e saberes. E esses povos que já moravam aqui foram chamados, lá pelos portugueses, de Índios. E esses povos, por mais de cem anos, o que fizeram foi resgatar brancos, portugueses, europeus que chegavam doentes nas suas praias. Esses povos muito provavelmente estavam curiosos em saber quem eram aquelas pessoas diferentes, de onde vinham, o que faziam, como viviam. Os brancos quando chegaram no Brasil não sabiam como andar pelas matas, não sabiam nem como pegar frutas das árvores. Na verdade crianças, eles nem sabiam que fruta era comida. Então, diversos desses povos chamados pelos portugueses de Índios ensinaram diversas coisas para os europeus; ensinaram a andar pelas matas, o que podia comer e o que não podia, ensinaram a tomar banho e várias outras coisas! Os Índios pensavam: se a gente ensinar alguma coisa à eles, eles vão nos ensinar alguma coisa também! E para eles, a chegada de um cambada de gente diferente nas suas praias não era problema: com tantos povos diferentes já vivendo aqui o que seria mais um? Era o que os Índios pensavam.

- "E os portugueses?"

- "Muito bom ter perguntado, querida. Os europeus chegaram aqui querendo saber se aquelas pessoas tinham alma, ou não. Sem nem se darem ao trabalho de pensar, ué será que na religião dos índios eles acreditam em alma? Não. Só queriam saber se aqueles povos poderiam ou não ser escravizados. Os portugueses foram muito bem recebidos ao chegarem no que viria ser o brasil, foram muito bem tratados, até que revelaram a sua verdadeira face, povos de uma civilização movida pela cobiça, pela violência, pelo medo, pela opressão, pela punição e o mais importante, pelo desprezo pelo outro."

- "Ah vovó Zilda, eu já cansei dessa parte. Pula logo pra quando o Tamariko aparece!" - falou o menino.

Tá bom, muito bem! Muitos e muitos anos se passaram e os europeus começaram a chegar cada vez com mais homens e armas, até que um dia um grupo de 80 a 100 portugueses fortemente armados chegaram na aldeia de Tamariko, um bravo guerreiro e líder indígena que a anos lutava contra os portugueses. Tamariko ficou muito conhecido tanto pelos povos originários daqui quanto pelos portugueses pois mesmo sua aldeia sendo pequena, em relação às outras que existiam, ele sempre conseguia criar estratégias para não serem capturados e escravizados pelos portugueses. Até que então numa noite quando ninguém esperava, numa noite de natal apareceu 100 portugueses cercando a aldeia de Tamariko com canhões, rifles e espadas.

- "Essa parte você nunca tinha contado vovó, porque a noite de natal era uma noite diferente? Os indígenas comemoravam o natal?"

- "Ah, não minha florzinha, não comemoravam não. Quem comemorava o natal eram os europeus. Mas lembra que eu disse que os Índios também queriam aprender com os portugueses? Então, eles rapidamente descobriram que o dia de natal era um data especial para a religião dos brancos, uma data que os brancos diziam ser um dia de amor e de paz. E os Índios respeitavam isso, eles nunca achariam que os brancos iriam ir contra a própria tradição e iriam tão profundamente desrespeitar o seu deus. O natal segundo a tradição da europa era para ser um dia de paz, de amor, mas naquela noite não foi o que houve. Foi o dia que Tamariko foi capturado."

Tamariko era um líder muito inteligente, então quando percebeu que não conseguiria ganhar a batalha, que estavam cercados e como os europeus jogavam sujo desrespeitando até o próprio deus, Tamariko ao invés de bolar um plano de ataque fez algo que até então nunca tinha feito lutando contra os brancos, bolou um plano de fuga, um plano de fuga para cada vez mais dentro da mata. Ele sabia que se fosse junto os soldados portugueses continuariam perseguindo sua aldeia. Então, armou uma estratégia que iria dividir as forças portuguesas fazendo seu povo fugir mata adentro e fazendo ele ficar bem no meio dos portugueses, fazendo seus inimigos preferirem capturá-lo, dando tempo para seu povo, família e amigos fugirem.

- "Tamariko é o mais inteligente de todos, né vovó?" - perguntou o menino.

- "Não é não, Yudjá que vai salvar o Tamariko daqui a pouco! Ela é a mais inteligente de todo o mundo." - afirmou a garota.

- "Nada a vê, ela só salvou ele, porque..." - começa a retrucar o garoto, mas é cortado pela avó

- "Eu acho que ele e ela nunca entrariam numa briga tão besta dessas. Mas, sei lá né, vou continuar a estória que eu acho que a gente ganha mais."

Depois de ser capturado, os portugueses colocaram Tamariko junto com outro Indígenas escravizados para cortar árvores e assim foi; cortou uma, cortou duas, cortou três, cortou quatro, cortou cinco e depois de ter cortado quase 50 árvores, com os braços cansados, o rosto suado, ofegante, foi pedir um copo d’água para um dos portugueses mas foi rápidamente impedido por uma jovem mulher indígena, Yudjá. Ela era muito reconhecida por quase todos os povos indígenas por ser uma das guerreiras que mais fez indígenas escravizados conseguirem fugir dos portugueses. Yudjá tinha sido laçada num dia quando sua aldeia foi atacada pelos brancos a vários anos atrás e acabou sendo forçada a se casar com dos portugueses. Depois de passar vários anos entre os portugueses e depois de ter vivido em menos de alguns anos os piores males que se pode sofrer durante uma vida toda, ela decidiu que começaria a enganar os portugueses de dentro da cabeça deles. Ela passou a entender como era o sistema de segurança português, passou a entender como e onde guardavam e organizavam o que roubavam e principalmente, passou a entender a língua portuguesa, pois assim poderia criar planos de fuga individuais para cada novo indíngena escravizado que chegasse.

Yudjá disse para Tamariko que ele não podia demonstrar fraqueza alguma, senão iriam matá-lo, disse também que era pra ele aguentar só por uma noite, ela tinha um plano para Tamariko fugir. Yudjá sabia que era muito melhor pensar em planos de fuga individuais, pois assim os portugueses não mudariam suas táticas por completo, fazendo com que ela sempre previsse os movimentos do inimigo e dessa forma eles também não suspeitariam que era ela quem estava por trás de todas as fugas. Ela dizia:

- "É melhor eu aqui, casada, do que vocês mortos."

- "Yudjá era forte, linda, inteligente e sagaz, igual você, minha florzinha." - disse a avó para a neta.

Zilda continuou: Ela não usava arma nem uma, mas era a mais valente guerreira. Tamariko aceitou a ideia de Yudjá e disse que voltaria um dia para retribuir o favor. Naquela noite quando Yudjá estava fazendo a janta dos portugueses aguardou a carne dentro de uma vasilha e deu para Tamariko. Yudjá serviu a janta para os portugueses que já estavam famintos e cansados de tanto esperar pela comida, que naquela noite Yudjá fez questão de atrasar. Na hora que os portugueses foram comer viram que não tinha carne e foram reclamar com Yudjá, que rapidamente gritou desesperada; minha mãe dizia que minha vó falava que Yudjá foi a primeira atriz do Brasil; ela gritou:

- "Foi o cachorro, o cachorro que roubou a carne!"

Os portugueses ficaram tão irritados com o animal que pegaram suas armas de fogo e dispararam várias e várias vezes em direção ao bicho, mas mortos de fome como estavam, não conseguiram acertar um só tiro no cachorro que saiu correndo de susto e foi pra mata. No meio daquela confusão toda Tamariko gritou:

- "Deixa que eu pego o bicho maldito para vocês!"

E saiu correndo pro meio da mata atrás do cachorro. Mas na verdade, quando já estava longe da onde os portugueses estavam acampados, mudou o caminho e foi em direção a sua aldeia. Quando os brancos perceberam que Tamariko usou toda a confusão pra fugir, já era tarde. E numa corrida dentro da mata, numa noite escura, era quase impossível os brancos conseguirem alcançar Tamariko. Chegando na sua aldeia viu que vários de seus amigos tinham morrido por doença, por doença que veio para além do mar, duma terra onde os olhos não conseguiam enxergar. Tamariko reuniu a todos e disse:

- "Nós, esta noite, vamos nos mudar, vamos matar os portugueses que me forçaram a trabalhar, vamos resgatar Yudjá e vamos ficar o mais dentro da mata que conseguirmos. Temos que ficar longe dos homens que vieram do mar, eles fedem, não tomam banho, cheiram a morte. Eles caminham junto com a morte. Quando não nos matam por violência matam apenas por respirarem em nossas terras, matam com espirros e doenças que eles se curam, mas nós não. Temos que ficar longe deles!"

Todos da aldeia concordaram com Tamariko e foram juntos até onde estavam os brancos portugueses. Chegando lá queimaram todo o acampamento, mataram os homens e fugiram para o interior da mata. Naquele momento Yudjá se viu livre de seu casamento e correu junto deles para o interior da floresta.

Quem contou essa história pra minha bisavó, que contou pra minha avó, que contou pra minha mãe, que contou pra mim e que agora estou contando pra vocês, crianças, não quis dizer o que aconteceu com a aldeia de Yudjá e Tamariko, não quis contar outras histórias depois dessa, não quis contar o que aconteceu com aquela terra depois disso. Mas minha mãe disse que a mãe dela falou, e assim por diante, que quando termina de contar essa história tem que olhar no fundo dos olhos de quem tá ouvindo e dizer:

- "Hoje vou contar uma Estória da História. Uma das diversas Estórias das Histórias de guerra. Guerra. Guerra que vivemos até hoje."

Domingos José
Enviado por Domingos José em 24/01/2021
Reeditado em 24/01/2021
Código do texto: T7167756
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