O menino passarinho

Certa feita nascia o menino Mateus, lá pras bandas de um povoado em Camaçari. "Vixe, sequer chora o menino. É danado e tem medo de nada. Bonito de ver, forte, vil e retado." Quem o visitava em casa comentava.

E não é que cresceu assim? Sem medo de escuro, cobra, briga, ventura no meio do mato. De nada! Nada fazia ele "ver bicho". Aliás, ver bicho na caça de noite era o que ele mais gostava. Foi crescendo assim, no costume da labuta, da terra, de roça. Mas pode-se dizer, o passarinho estava ali, e mesmo assim não sentia o gosto de sair da gaiola, de ver o mundo.

De pouco em pouco estava grande o menino, jovial, sedento por diversão e festa, já que, só viver de labuta e mato cansou pra ele. E dali aos poucos, de festa em festa, o passarinho foi se colocando em risco de vida. Apois num era ele ainda o menino danado que sempre se viu? Então, o risco valia.

Mas de tanto bater asa, o passarinho não pôde ver também que já estava fora da gaiola, vivendo e aprendendo, e se arriscando da mesma forma. E certa noite, num bar da esquina, nem ele nem ninguém presente imaginaria o pior. Ali mesmo, entraram homens armados, encapuzados e como o passarinho: destemidos.

Como na caça do mato, os homens agiram rápido. Sem motivos levaram o menino, preso coitado, numa mala apertada, em meio à estrada de barro. Nem mesmo o passarinho, que nada temia, suportou a dor de ser levado de forma injusta, sem razão. Naquele doloroso instante, o passarinho chorou. Bastante, pois parecia saber que aquela gaiola era mais perigosa e sofrida do que qualquer coisa que ele havia passado antes.