Meu Amado Esboço

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Muito obrigado e boa leitura!! :)

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Abro novamente a porta do meu apartamento, após outra sessão de autógrafos, juntamente da comitiva de imprensa que foram me ver e fazer perguntas no centro da cidade. No começo, havia optado por seguir a carreira literária motivado pelos sonhos de ser escritor e ter minha própria personificação viva por milhares de anos, eternizado nas próprias páginas das quais me dedico diariamente, porém, nunca pensei que tal escolha fosse tão... Desgastante. Com a imprensa e os paparazzi sempre à minha procura, e os leitores ávidos cobrando ansiosamente os próximos capítulos, sinto-me mentalmente exausto e o que acontece na mente, reflete no corpo... Trazendo-me, também, uma fadiga física.

Fecho a porta atrás de mim e penduro o casaco sobre o cabideiro da parede à minha esquerda, enquanto retiro os sapatos deixando-os à porta. Com a maleta marrom de couro na mão, avanço pelo corredor até a sala de estar, onde a deixo sobre a mesa de centro. Meu apartamento, mesmo que com aspecto velho e antigo do lado de fora, fora reformado recentemente, todo mobiliado em um estilo contemporâneo variando desde escalas de cinza até tons de madeira e marrons escuros. À minha frente encontra-se um sofá branco ao lado da porta da sacada, sob um quadro em arte abstrata oriental, e, do outro lado do cômodo, a porta para a cozinha ao lado da televisão. Após deixar a maleta sobre a mesinha de centro a frente do sofá, sobre o carpete cinza escuro, avanço pela continuação do corredor até duas portas mais afastadas, adentro uma delas e pego meu laptop sobre a escrivaninha de meu quarto.

Sento-me no sofá da sala com os pés, ainda descalços, sobre a mesinha de centro e, com o aparelho sobre meu colo, abro um arquivo de texto denominado “Bem Me Quer – Parte 3 (Rascunho)” e começo a descer a tela passando pelos diversos parágrafos e frases minuciosamente descritas numa narrativa de romance em primeira pessoa.

- Elizabeth, Elizabeth... E agora, o que acontecerá com você? – penso em voz alta enquanto leio os últimos acontecimentos que escrevi - Vejamos... Ahn... Droga, não consigo pensar em nada!

Divagando pelas últimas páginas de meu livro, procuro algum resquício ou desfecho para a coleção de romance intitulada como best-sellers por todos os grandes jornais internacionais, e relembro-me do título que carrego, as pessoas que lerão meu livro... Todos os milhões e milhões de pessoas irão ler meus livros posteriormente, o meu desfecho, a minha história e o desenvolvimento de personagens... Sinto recaindo novamente sobre meu ombro todo o fardo e a pressão que me vem abalando ao longo do tempo, sinto meu coração batendo arrítmico, meu fôlego ficando cada vez mais pesado, como o meu fardo.

- O que será que os leitores dirão? O que diabos eles irão pensar? E se eu os decepcionar tão como a imprensa, o que farei? Ó por Deus, será meu fim! – Continuo enquanto limpo o suor frio da testa com as mãos – Preciso me refrescar, preciso recobrar a atenção para poder me focar no livro.

No caminho do sofá até o corredor, deixei o laptop ao lado da maleta, sinto todo meu corpo estremecendo com os afligidos pensamentos, ainda que, tentando em meu íntimo, responder as amargas perguntas que entremeiam minha garganta, as palavras cruéis que não saem. Viro no corredor à esquerda, passando pela porta e encontro-me no banheiro, vou em direção a pia, afrouxo a gravata de meu paletó e começo molhar o rosto. Umedeço a face e olho-me no espelho enquanto a figura também se levanta contra mim a minha frente, vejo a água escorrendo por toda sua pele, seus olhos castanhos escuro... fitando-me sobre as enormes olheiras, juntamente das diversas marcas e linhas por toda a pele, noto sua expressão maçante de cansaço e decadência. Agacho-me até a torneira aberta e, com as mãos juntas, recolho um pouco de água e passo novamente em meu rosto, esfregando levemente com as palmas das mãos, fecho a água que sai da torneira e permaneço ali, pensativo.

Levanto, outra vez, o olhar em direção ao espelho e uma nova face se revela.

- Olá – digo me dirigindo a figura feminina e exuberante refletida no espelho — Elizabeth! – Porém, ela, nada diz e nem me responde, como sempre. Vejo Elizabeth passando seu braço sobre meus ombros e me abraçando por trás, mas não sinto seu toque, não sinto seu corpo recostando ao meu e nem sequer o calor de sua pele de encontro a minha — Como eu queria você aqui comigo... Quem sabe pudesse ajudar-me com sua inteligência perspicaz e sua garra proveniente de seu temperamento único.

Vejo os seus belos lábios avermelhados e, no espelho, seus cabelos escuros e lisos atrás de mim enquanto sua pele macia, suave e encantadora recolhe-me para junto de si em um abraço confortador. Seus olhos castanhos refletem a encantadora sedução pela qual me apaixonei, não só pela sua beleza exuberante, mas pela pessoa que ela é. Seu caráter, sua índole e todas as boas qualidades que ela possui cativam-me por completo. É difícil encontrar pessoas assim, penso.

Ajude-me Elizabeth! – Eu a peço ainda vendo seu reflexo no espelho. Eu viro o rosto em direção ao seu, mas meus olhos não a veem mais, volto-me novamente para o espelho e ela também não está mais lá — Ah... – Digo com um longo suspiro e, cabisbaixo, saio do banheiro e vou mais uma vez em direção à sala de estar.

Já na sala, atravesso-a indo em direção a cozinha, onde abro uma das portas superiores do armário e pego um frasco contendo alguns pequenos comprimidos redondos e amarelos para ansiedade, jogo alguns sobre a palma da mão e os engulo seguido de um copo de água, devolvendo o frasco alaranjado novamente para o armário da cozinha. Ando até a sala e pego o laptop, já um pouco melhor.

- O que eu faço? O que eu faço? – Falo baixo ligando uma vitrola na mesinha ao lado do sofá, como um bom amante de relíquias vintages – Diego não é digno de sua companhia... Roberto é um babaca clichê... O que eu faço? O que eu escrevo? Ah... – Digo com um lento e prolongado suspiro – Como queria a ver aqui – Levanto-me do sofá e estendendo as duas mãos à frente, na altura de minha cintura – Segurá-la pelos quadris e lentamente apreciar o grande universo existente em seu olhar, mergulharmos no mar de amor que mal cabe em meu peito e dançarmos eternamente, lado a lado, com o singular toque de valsa vindo da vitrola – Continuei com alguns passos e coreografias imaginando-a ali, a minha frente – Somente eu posso lhe dar todo o amor que merece, tudo o que você merece. Desde que vi o brilho em seu olhar soube que você era especial. Não foi por minha causa, minhas histórias ou minha escrita que meus leitores gostam de mim... – Eu digo diminuindo gradativamente a velocidade dos passos com o ritmo da música na vitrola – Foi você, foi sempre você! Eu deixei minha paixão por você transbordar de meu peito, molhando de amor e ternura as páginas borradas de meu livro, meu amor tomou conta da escrita trazendo um sentimento verdadeiro, um sentimento verdadeiramente apaixonado por você!

Meus pés deslizavam e se mexiam numa valsa ritmada com minha imaginária Liz, descendo seus braços finos e puros pelo meu corpo, fitando-me com seu olhar brilhante que tanto me cativava, trajando um vestido branco de renda e uma coroa de flores sobre a cabeça. Ela sorri para mim. Sinto-me bailando pelo céu em completo êxtase. Sinto um frio na barriga, um nó na garganta e meus pensamentos são completamente apagados, naquele momento tudo apagou-se, tudo em que me focava e merecia minha atenção era a eternidade do brilho em seu olhar e nos passos que elevavam-nos.

- Eu... – Disse com um sorriso no rosto – Apaixonado pela minha própria criação. Eternizado na consagração de meu amor por você, de sua beleza, de seu caráter, de seu tudo... Tudo que me resta é negar-me lhe entregar a um deles... Diego, Roberto, Paulo... Nenhum deles consegue ver o mundo em seus olhos como eu vejo, nenhum deles é bom o suficiente.

Nossos corpos eram lançados ao vento e elevavam-se como balões de ar quente, íamos calmamente passando pelas nuvens e o céu azul enquanto a terra e as grandes cidades abaixo de nós ficavam cada vez menores. Eu segurei suas mãos com as minhas, entrelaçando nossos dedos enquanto fitávamos em plena paz interior. Notei as flores e o seu vestido branco de renda ondulando-se e se mexendo com o vento, os raios de sol refletiam e contrastavam com os negros fios de seu cabelo enquanto meu coração se aquecia e flagelava-se de amor por ela. Eu me aproximei enquanto ela se aproximava de meu corpo, assentindo, passei minha mão por trás de seus cabelos e a beijei em sua boca.

Quando abri os olhos ela havia desaparecido. Não senti o doce toque de seus lábios de encontro aos meus, não se via mais seus cabelos negros e sedosos, seu vestido branco, seu doce e encantador cheiro e nem sequer seu olhar. Encontrava-me novamente de pé no centro da cinzenta sala de estar com o disco de vinil girando sob a agulha da vitrola, porém, a música já havia acabado. Olho em volta à sua procura, mas ela já não está mais lá, em nenhum cômodo do grande apartamento frio e vazio. Sento-me no sofá com o laptop sobre o colo e evito dar um fim a história, evito deixá-la ir... Olho pelo vidro da varanda e vejo duas aves voando pelo céu.

Com suas grandes asas elas cruzam e sobrevoam todo o céu em completa liberdade, gozando de seus amores, de sua felicidade... “Ah, como queria que fostes livre para mim como os pássaros são para o céu! Como queria que estivesse ao meu lado para todo o sempre assim como meu amor estará por você durante toda a eternidade...”, penso. No céu, vejo os pássaros voando próximos, suas asas batem serenamente enquanto voam em círculos. De seus corpos formam-se caudas compridas e cinzentas até que eles se ligam formando um círculo e, tomando vida frente aos meus olhos, forma-se do círculo a coroa de flores brancas de minha amada. Vejo a coroa de flores sobre ela na porta, diante da sacada, ainda com seu vestido branco de seda, segurando as cortinas cinzentas enquanto olha para fora, onde a luz do sol brilha e reflete. Ela sai e eu a sigo até fora, Liz continua posada com os braços sobre o corrimão da sacada, me aproximo e faço o mesmo. Ela sorri.

- Por quê? Eu não consigo entender... Por que eu não posso ficar com você? Por que não posso tê-la ao meu lado? Por que tenho de acordar todas as manhãs, olhar para o lado e ver que você não está lá? – Eu digo com os olhos marejados enquanto sinto a brisa leve e úmida avançava de minhas costas remexendo os cabelos dela de forma encantadora enquanto prossigo cabisbaixo com os punhos cerrados – E-Eu não entendo...

De repente, vejo a palma de sua mão estendendo-se em minha direção, ela havia desencostado do corrimão e estava de pé a minha frente com os seus olhos cheios de lágrimas, fazendo-os brilhar e reluzir ainda mais. Ela criou laços de empatia e se importava comigo, meu coração parou repentinamente e senti um frio na espinha por todo o corpo, ela havia demonstrado afeição por mim e me senti correspondido por ela pela primeira vez. Sem pensar duas vezes, levantei meu olhar cabisbaixo em direção aos dela.

- Você se engana quando diz que meus olhos brilham, querido – Ela fala com sua voz suave e serena – Eles apenas refletem todo o brilho que você emite, o universo dentro de meus olhos é o universo dentro de você porque juntos somos um só – Ela disse entrelaçando seus dedos aos meus. Pela primeira vez senti o toque de sua pele de encontro a minha, sua suave e macia pele entrelaçando meus dedos.

- Então não se vá, fique comigo! – A pedi com os olhos em lágrimas – Eu a amo e a imploro, por favor, meu amor, não vá!

- Você não precisa ficar meu bem – Ela diz tranquila, olhando-me nos olhos – Venha comigo e poderemos ser um só na eternidade de sua obra, nosso amor estará trilhado pelas frases que escrever e marcado para sempre assim como nosso amor.

Meus olhos brilharam de encontro aos seus e novamente senti aquela sensação tomando-me por inteiro: o amor. Bambeando minhas pernas, causando-me um frio na barriga, apagando qualquer pensamento ou preocupação de minha mente e açoitando em amor meu pobre coração que somente batia por ela. Aproximei-me, segurando-a pelas mãos e deixei que seus lábios viessem de encontro aos meus, senti-os doce, quentes e suavemente deslizando sobre os meus, no ímpeto amor transcendido de além da vida para a eternização das páginas de um romance enquanto reconfortava meu apaixonado coração com um vagaroso beijo em meu amado esboço.

Luis Felipe G Silva
Enviado por Luis Felipe G Silva em 21/01/2021
Código do texto: T7165143
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