Potira dos buritis
Potira sonhava com um príncipe de olhos azuis, caucasiano, cabelos loiros e corpo atlético. Um deus Tupã na versão californiana. Se a fronda do buriti falasse, revelaria segredos da lua cheia. Mas a sua mãe, a Índia, olhos de águia não rendia homenagem ao povo cor de sol, e nem beneficiava os estudantes de antropologia com a hospitalidade da tribo.
Ela sorria como uma jaguatirica, e por dentro guardava o veneno da naja cuspideira. Um dia chuvoso, ela foi banhar-se no rio e pegou a filha Potira beijando o estudante corpo sarado. Movida pela raiva, empurrou o rapaz nas águas profundas do rio sem fim. A menina começou a chorar e gritava:
- Corpo sarado? Por favor, nade! Fique comigo!
Mas o rapaz não teve chance de se despedir, subiu uma última vez, fito-a com olhos vidrados e desceu. Desde aquele dia não voltou à falar com a mãe. Sentia uma profunda solidão e melancolia, perdera a vontade de viver. Sentava à margem do rio, toda tarde, à sombra dos buritis e contava a história de uma jovem, que viveu um amor e agora está morrendo dele.
Nem doutor, nem Pajé conseguiu devolver a magia da vida. Sentia-se sufocada e presa ao passado. Quarenta luas depois, uma chuva desabou e inundou a taba. E toda noite de lua cheia, o espírito da floresta chora de tristeza.