Adeus português

Um bilhete, foi o que restou nas mãos de Adelaide. Menina doce, corpo em forma de violão e uma inteligência acima da média. Seu pai, funcionário da Caraíba Metais, era um homem tinhoso, destemido e respeitado. Uma língua afiada, e os braços fortes.

Não levava desaforo para casa; medo de 38, não tinha. Pai devotado à família, sete filhas tinha, um verdadeiro receptáculo de conversa amarrada. Pretendentes faziam em sua porta, parada obrigatória. Também, tantas filhas lindas e com idade de beijar na boca!

Era um defensor de seu terreiro, tinha que prender suas cabritas, pois os bodes andavam pulando cerca. Adelaide, a filha caçula, engraçou-se por Domitilo; um jovem sem eira nem beira, que gostava de tocar violão. Mas não seria o corpo da filha de Laurentino que ele iria fazer rimas.

Certo dia, Domitilo vestiu-se de coragem e foi ter uma conversa com o senhor Laurentino. Bateu à porta e chamou:

- ô, de casa! Sr. Laurentino, gostaria de ter um dedo de prosa com o senhor! Pode ser?

E, uma voz aguda, respondeu:

- Quem é? O que você gostaria de falar comigo! Chegue! Ande!

Nesse instante, Domitilo botou a cara na janela e foi convidado à entrar.

- Entre rapaz! O que foi?

Adelaide, lá da cozinha, espiava com um brilho no olhar e um nervoso íntimo de privada. Com o coração maratonista; correndo e pulando por causa do amor de sua vida.

Passando algumas horas, o rapaz saiu, pediu um papel e uma caneta. EscreveI duas mal-traçadas linhas, e deixa sobre a janela, e vai embora sem olhar para trás. A moça corre, pega o bilhete e sem testemunhas ler. “Adelade num dá pra agente namorá, seu pae num quer; não vou forcá! Intenda, meu amó! Ti amu!” Ela abriu o berreiro, e o pai veio consolar. As irmãs vieram desesperadas, mas nada! Gritando, chorando e com raiva, falou:

- Além de frouxo, é burro!

Jaciara Dias
Enviado por Jaciara Dias em 20/01/2021
Reeditado em 20/01/2021
Código do texto: T7164212
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.