PENSAMENTOS FRUGAIS DE UMA MANHÃ

Tânia notou que o vizinho não saia de casa já há alguns dias. Preocupava-se com ele, pois era velho e morava sózinho. Era um homem solidário, que sempre estava com as mãos abertas para ajudar quem quer que fosse. Muitas vezes recolhia os pacotes deixados na porta dos vizinhos, com todo cuidado, para entregá-los pessoalmente, alegando que ia chover. Mas era claro que fazia isso para acalmar sua solidão.

Do outro lado do lago, um piloto de avião, sentado em seu terraço e  entediado com as companhias aéreas todas paradas, resolvia fazer um relatório reclamando das latidas do cachorro do vizinho para a direção do Condomínio. Tânia desejou que o cachorro continuasse latindo, para que ele tivesse algum propósito, pois entre uma escrita e outra, seus olhos estavam sempre olhando para o céu.

Na casa de esquina, Jim cortava a grama, enquanto sua mulher gritava onde ele havia colocado o aspirador de pó. O pobre homem gesticulava, e ela continuava gritando, como se o mundo se resumisse a tirar a poeira. Ah! se fosse s
ó isso! Jim, calmamente, continuava a cortar a grama, até que ela abria novamente a porta, com outro pedido. Pensou que talvez eles precisassem de um filho para terem outras preocupações.

Tânia voltou seu olhar para o papel em branco, onde havia desenhado uma coleção de flores, e feito alguns rabiscos. Hoje ela teria que escrever um conto, mas sua mente voava observando a vida da vizinhança. Faltava-lhe idéias. Não sabia se escreveria ficção, ou se cairia naquela mesma lenga-lenga  intimista.

Entre tantos pensamentos, levantou-se e resolveu desistir . Detestava ter que assumir sua falta de criatividade, mas, naquele momento, tudo que ela queria era estourar umas pipocas no microondas e assistir a um filme no Netflix.



Tema: Abortei a ideia principal
 

 
Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 19/01/2021
Reeditado em 14/07/2021
Código do texto: T7163437
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