JOÃOZINHO ACAMADINHO

Certa vez, numa aldeia global, a criançada se deleitava em suas traquinagens, ora numa ciranda de rodas, ora num parque colorido onde existiam flores de todas as cores, todos os aromas que deixavam o ambiente alegre, festivo, colorido. Também havia águas correntes cristalinas debruçadas nas cachoeiras produzindo sonoras melodias. Existiam as lindas florestas com sua flora e a fauna exuberantes. O sol brilhava ardentemente oferecendo luz e vitamina D a todos que desejassem dele usufruir. Era uma felicidade só, aquela aldeia global. Num determinado momento as cachoeiras foram secando, vez e outra soltavam lágrimas de tristeza. As águas sendo traídas pelo esgoto, perdendo sua limpidez, as flores ficaram menos coloridas, seus aromas se confundiram com o exalar da fuligem dos escapamentos automotivos. As florestas sumiram em detrimento do desenvolvimento, a flora e a fauna ficaram mais dispersas aos olhos daquelas crianças.

Numa certa manhã, aquelas crianças acordam desnorteadas, com sensações estranhas nunca dantes sentidas. Dores no corpo, enjoos, cansaço, dificuldade de respirar. Joãozinho Acamadinho deixou para reclamar das dores à sua mãe quando já era noite, porém, sua mãe lembra a ele, de que houvera esquecido de passar na farmácia do seu Luzeiro para pegar seu remedinho o qual costumava ingerir quando se sentia mal. Naquela hora da noite a farmácia já estava com suas portas cerradas, que ele esperasse até o dia seguinte quando ela iria conversar com o seu Luzeiro.

No dia seguinte chegando à farmácia, sua mãe percebera a enorme fila de crianças na porta esperando a chegada do seu Luzeiro, para que este desse o remedinho tão esperado. Todos ficaram tristes quando souberam que a farmácia não dispunha do tal remedinho para aquele mal que surgira repentinamente. Todos caíram em polvorosa quando seu Luzeiro indicou para que todos ficassem em casa a espera de um novo remedinho que curasse os males de todos. Na volta para casa cada um emitia sua opinião acerca do que falara o seu Luzeiro. Alguns aceitaram, percebendo no momento, ser a melhor solução: melhor ficar em casa do que brincar e sentir dor de barriga ou até mesmo dar um desarranjo no meio da brincadeira, eu hein... que mico vou pagar, diziam alguns. Outros mais afoitos negavam, diziam que iriam continuar brincar, curtir a vida, pois ela é muito curta. Outros entendiam que estavam imunes de qualquer mal, pois a fé cura tudo. Outras crianças negavam veemente a existência do mal, era criação de algum bobinho que desejava zoar de todos, diziam aos coleguinhas.

O tempo passara rápido como a fumaça de um foguete e muitos Luzeiros tentavam a todo custo criar o remedinho para aquela dor de barriga que a maioria da criançada estava sentindo, porém um grupinho de crianças “inocentes” ou quem sabe “malévolas” insistiam em negar e até mesmo dissipar historinhas da carochinha deixando outras crianças em dúvida ou até mesmo virarem-se contra os Luzeiros que tentavam descobrir o novo remedinho para que, finalmente pudesse atender a todos.

Finalmente chegara o grande dia de tomar as milagrosas gotas, as crianças mais afoitas e descrentes falavam: eu não vou tomar o remedinho, meu pai falou que vai me fazer mal, eu posso virar jacaré. Outras diziam: este eu não vou tomar, vou esperar por outro de cor diferente, outras mais radicais falavam: primeiro vou esperar o efeito que vai acontecer no meu coleguinha, se ele não morrer ou ficar torto, daí eu tomo. Tão pensando o quê? Não sou burro não... Enquanto isto, Joãozinho Acamadinho, está à espera de uma solução para sua falta de ar entre Paulinhos, Mariazinhas, Zezinhos, Pedrinhos, Dorinhas...

Valmir Vilmar de Sousa (Vevê) 19/01/21

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 19/01/2021
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