DECADANCE AVEC ELEGANCE

DECADANCE AVEC ELEGANCE

No restaurante caro e sofisticado, uma senhora, alheia aos outros clientes, requer para si todas as atenções.

Chama o maitre e reclama da temperatura do ar condicionado. É atendida e não agradece.

Nisso, aproveita para solicitar a troca da taça de vinho. Inadequada ao tinto, conforme suas observações.

O maitre retorna com uma bela taça de cristal da Baviera. Ela concorda e troca a taça.

Em seguida, pede uma entrada ao garçom. Este, em poucos minutos, solícito, traz uma cesta com diversos pães e molhos especiais.

Com mesura, deposita na mesa e se retira.

Nisto é chamado, de novo, pela senhora:

- Quero um azeite extra virgem para acompanhar o antipasti.

- Sim, madame, o trarei, prontamente.

O garçom retorna, então, com um azeite espanhol de excelente procedência.

A senhora reclama:

- Este é o melhor azeite que esta espelunca tem?

- Sim, madame

- O senhor pode afirmar que é, realmente, um azeite extra virgem?

- Olha, minha senhora, eu não estava no local, para afirmar se ocorreu ou não o ato.

- Garçom grosseiro, chame o gerente.

Vem o gerente e ouve a cantilena da senhora. Esta lhe pede, sumariamente, a demissão do funcionário.

O gerente, então, olha a madame, bem nos olhos, e diz

- Velha bruxa, recalcada, falsa burguesa do Leblon, vaza da nossa casa. E não precisa pagar a conta.

Entre suspiros e palavrões em francês, a velha dama abandona o restaurante.

Não sem antes, de dedo em riste, dizer:

- Não volto mais a esta espelunca. Vocês vão tomar no cu.

Cruza a porta e arremessa-a com força. Com muita raiva. Estilhaços de vidro espalham-se pela calçada.

Indiferente, o sol se põe, majestoso. no horizonte da Baia de Guanabara.

Ricardo Mainieri
Enviado por Ricardo Mainieri em 03/01/2021
Reeditado em 04/01/2021
Código do texto: T7151201
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