Saudade da lamparina, fogão a lenha e água de pote.

Ainda vivi na época da lamparina, o querosene não podia faltar, ele fomegava para que o fogo jorrasse na ponta do pavio.

Por muitos e muitos anos ela foi um sucesso, iluminava parcialmente as imediações dos espaços, seu uso era comum nas andanças a noite.

Via-se vultos, barulhos e ruídos na escuridão, onde o clarão da lamparina não alcançava. A rasga-mortalha, o matim-pererê, quase sempre nos surpreendiam com suas aparições bisonhas. Nas luas cheias, ouvia-se rosno estridente do lobisomem, nas noites escuras, parecia um breu de tão preto que ficava o céu.

O jantar era servido cedo e dormia-se cedo, em rede, cama só para os casais. Havia a cozinha e o fogão de lenha, o machado entrava em ação para cortar a lenha e fazer o fogo: lá estava a lamparina para clarear o espaço. Do pote de barro se bebia aquela água bem friinha, que a gente carregava do rio.

A cintina ficava fora da casa, bem no fundo do quintal, lá vai a gente de lamparina em punho... quando chovia era um Deus nos acuda, pisava na lama, em cobra; também tinha o bacio para uso em caso de emergência.

O carapanã nos atacava de montão, éramos marcados o corpo todo, minha mãe os queimava com o fogo da lamparina, mas não dava vencimento. Logo na boca da noite ela fazia um fogarel numa bacia, e colocava as ramas de folhas do mucuracaá em cima, um planta medicinal, era uma fumacê desgramado, espantava por algum tempo, mas não dava jeito.

Importante: não tínhamos esse custo mensal de luz, gás e água.

Com a chegada da luz elétrica, a lamparina foi aposentada, como também o pote.

Já estou com saudade da lamparina e da do pote devido o alto custo da conta de luz, gás e água. Outro dia, ouvi uma notícia que muitas pessoas estão usando fogão a lenha. Será que vamos voltar a era da lamparina, do fogão a lenha e do pote?

Em 21/10/2020

Autor: José Gomes Paes

Poeta e escritor urucaraense