À espera da adiada água
Diversas pessoas vagam no deserto. Mesmo com a realidade da areia, do Sol e do calor, o líder de um dos grupos nega que exista deserto. Ele incentiva todos a beberem, sem controle, a escassa água que carregam nos cantis. Alguns acham prudente não desperdiçar a água e outros, que passam a acreditar na inexistência do deserto apesar da garganta seca e dos pés ardentes, aplaudem o líder. O grupo se divide e a desunião intensifica o sofrimento.
A sede começa a matar, mas o líder afirma, seguro, que ninguém está morrendo. Sua palavra se torna verdade e muitos, mesmo tropeçando em corpos, seguem confiantes que não há mortes.
Nos outros grupos, os líderes pedem que todos economizem água, que permaneçam unidos e que sigam as orientações dos médicos e cientistas.
A água é a esperança. Pesquisadores trabalham intensamente na procura do precioso líquido e os progressos são comunicados, constantemente, a todos os grupos. Sabendo da evolução das pesquisas, os líderes começam a negociar a tão aguardada bebida em volume suficiente para saciar a sede de seus liderados. Apenas um líder, o negacionista, permanece inerte.
Por fim, os cientistas encontram uma fonte com água fresca. O líder inerte assegura, com sua certeza de sempre, que a água é contaminada e transformará as pessoas em répteis. Muitos do seu grupo, mesmo sedentos e caminhando para a morte, batem no peito e gritam que não tomarão água. Isso aumenta a revolta daqueles que já não suportam mais a sede.
Em pouco tempo, esse infeliz grupo começa a ver pessoas em sua volta saciando a sede, escapando da morte e comemorando a vida.
Preocupado em perder a liderança, o inerte líder tenta transferir responsabilidade, alegando que ninguém lhe procurou para oferecer água. Os outros líderes veem nisso uma piada e gargalham.
As pessoas do desolado grupo continuam suportando o deserto com gargantas secas e incertas de que estarão vivas quando, enfim, chegar a água...