SEMANA CULTURAL DE PARIS
Num encontro em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, eu, uma Coruja conheci um Pavão francês que me incentivou a organizar uma delegação para ir em março, a Paris, participar da Semana Cultural da cidade. A ideia multiplicou-se e ganhou vários adeptos. Nessa ocasião, o grupo fez amizade com uma Águia baiana que afirmou:
– Se a viagem acontecer, estou com vocês.
Uma semana depois, promovi um encontro na mata, de meu condomínio, para analisarmos um projeto que esboçara. Compareceram a Arara; as mães do Cardeal, do Sabiá, da Andorinha, do Canário, da Pombinha, assim como os pais da Beija-flor-rubi.
O pai da Beija-flor-rubi coordenou a reunião. Após, apresentar o meu projeto e o seu, colocou-os em votação. Foi escolhido o dele, pois incluía “um pulinho” a Londres.
A Arara ficou encarregada de fazer contato com a Águia e passar-lhe a programação. Essa perguntou se poderia convidar um João de Barro, amigo e jornalista, muito respeitado no seu estado. Pedido aceito, o João de Barro falava com fluência francês.
Compuseram a Delegação dezesseis integrantes. No embarque, todos irradiava alegria, exceto a Águia que estava um tanto estranha.
A chegada a Paris foi deslumbrante, o dia amanhecia ensolarado e, no ar, havia um agradável perfume primaveril.
No hotel, desmanchei as malas, tomei banho e, ao passar pelo quarto da Águia, ouvi gemidos. Bati na porta e ela falou:
– Madrinha, entra! Está só encostada.
Ao vê-la, percebi que havia algo errado.
– O que está acontecendo contigo?
– Na manhã que viajamos, escorreguei no banheiro e a minha asa direita está doendo muito. Não consigo nem me vestir.
– Fica calma! Vou ajudá-la.
Prontas, fomos tomar café. Após, dirigimo-nos à Catedral de Notre-Dame e, posteriormente, ao Museu do Louvre. Na metade da tarde, a Águia avisou-nos que iria retornar ao hotel, sentia-se cansada e, à noite, tínhamos o passeio pelo Rio Sena, no Bateaux Mouches.
A Beija-flor-rubi e a Pombinha comentaram com a mãe do Canário que a Águia estava muito abatida. Ela, preocupada, foi ter com a amiga. Ao examiná-la, constatou que estava com uma lesão na asa e precisava imobilizar. Recomendou-lhe repouso para, no dia seguinte, pudesse acompanhar o grupo ao Palácio de Versalhes, onde seriam realizadas, pela manhã, as atividades da Semana Cultural de Paris.
A tarde, no segundo dia, visitamos a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo; no terceiro, os Museus d’Orsaye e de História Natural e fomos às compras na Avenue des Champs-Élysée; no quarto dia, o Jardim de Luxemburgo e à Basílica de Sacre Coeur; e, no quinto dia, tarde livre, pois a noite, participaríamos de um Jantar no Hotel George V.
A Águia e o João de Barro não foram a todos os passeios; guardavam-se para a viagem a Londres.
No sábado, cedinho, partimos de Trem-Bala à capital da Inglaterra. A Pombinha e o Canário, com seus respectivos familiares, não nos acompanharam, preferiram ir à Euro Disney Resort. A Arara ficou no hotel, aguardando a entrega da sua bagagem que tinha sido extraviada pela empresa aérea.
No primeiro dia, visitamos as sedes do Parlamento, o Big Bem e à Abadia de Westminster; no segundo, o Palácio de Buckingham, à St. Paul’s Cathedral, à Torre de Londres e à Tower Bridge; e, no terceiro, fizemos um passeio na London Eye.
No retorno, na St. Pancras International Station, no momento que a Águia foi embarcar, disparou o alarme. Vi-a cercada de seguranças e sua bagagem sendo aprendida. Na hora, gritei:
– Minha amiga é cardíaca e tem pontes de safena.
Ignoraram-me e continuaram a empurrá-la para uma sala. Pedi a Beija-flor-rubi que cuidasse da minha bagagem e corri para o local que a tinham levado.
O João de Barro, sem entender o que estava acontecendo, seguiu-me. Na sala, duas policiais tiravam a roupa da Águia. Esta, ao ver-me, falou:
– Madrinha, estou sem calcinha. E agora?
João de Barros, rápido, explicou que a Águia possuía documentos que comprovavam seus problemas de coração. Pediram-na para apresentar. Ela, tranquila, disse-nos:
– Deixei na mesinha de cabeceira, no hotel.
Um dos policiais falou:
– A senhora fica detida até alguém trazer o documento.
Apavorei-me. Nisso apareceu um segurança brasileiro que, após nos ouvir, explicou a situação aos policiais e eles aceitaram liberá-la.
Solicitei-lhes a bagagem da Águia, a qual custaram para localizar. Por pouco, não perdemos o trem.
No trem perguntei:
– Amiga, por que não pediste ajuda!
– Psiu! A meninada pode ouvir. Nunca pensei em enfrentar tais problemas por ser tão desligada!