Voltava do trabalho depois de sessenta horas de aulas que eram distribuídas nos turnos manhã, tarde e noite. Estava com sede mas o cansaço era maior e vencia a ocasião. Entrei no carro como se fosse um robô. Parei na padaria próxima de casa para caçar alguma coisa pronta para comer. E, vi novamente um conhecido morador de rua que não tem uma perna. E, no lugar tinha uma perna mecânica... Cumprimentei-o e, ele me pediu que lhe pagasse um lanche. Falei com o dono da padaria... E, um funcionário olhava para mim, quando confidenciou-me: - Professora, a senhora está pálida. Eu ri... e disse: - eu sou meio amarela mesmo... É só cansaço... Amanhã eu melhoro. Ao sair, voltando com as comprinhas para o carro, deparei-me com um gesto de gentileza do morador de rua... pois dividia o lanche com um senhor que passava mal devido a fome. Fiquei impressionada em ver alguém, que tem tão pouco ser capaz de dividir o que tem. Voltei a padaria. E, deixei outro lanche pago. Mas, não fiz alarde. Entrei no carro, novamente, robotizada. Cheguei em casa e, duas lágrimas percorriam meu rosto... Em perceber que ainda há famintos e misérias explícitas que simplesmente se tornam invisíveis por conta da contumaz indiferença. Abri o portão. Peguei o que trouxe da padaria e coloquei em cima do criado mudo. Que se pudesse, me xingaria... estiquei o corpo magro na cama que parecia uma armadilha de aranha. Dormi profundamente. Quando acordei, já eram seis horas da manhã e, lanche de ontem permanecia intacto. Engoli alguns pedaços do sanduíche. Pentei o cabelo (que é enorme) pareço uma Rapunzel contemporânea... E, fui ao banho... liguei o rádio. E, subitamente descobri que era sábado... e, que não precisava ir trabalhar... Voltei do banho com ar imbecil. E, comi mais um pouco. Passei um hidratante no rosto e, pensei que as lágrimas são o hidratante da alma. Voltar a si é preciso. Sorrir não é preciso.