A princesa do gueto - BVIW

Cissinha era uma jovem ambiciosa, bonita, bumbum empinado, seios fartos, olhos grandes por dinheiro e preguiçosa. Morava fora do perímetro urbano, numa casa de tapera, com doze irmãos e a mãe, dona Tudinha. Uma senhora de mãos calejadas pelas trouxas de roupa, rosto maltratado pelo sol e um coração grande. Certo dia, Cisssinha foi a um paredão promovido pelos reis da coca, lá conheceu dente de ouro. Um jovem temido pela comunidade. Bebeu, dançou e amanheceu nos braços de seu Romeu da papoula. Acostumou com essa vida e abandonou à família. Partiu o coração de dona Tudinha. Jóias, armas, dinheiro e poder, uma combinação perfeita para quem gosta de atalhos. Em pouco tempo, Cissinha ganhou fama, respeito forçado e notoriedade, principalmente da polícia. Um belo dia, foi presa com três quilos de cocaína. Quinze anos de liberdade foram perdidos para a casa de tia Dete . A volta para casa foi um caminho solitário e árduo. Sua fama correu, assim como os amigos de infância, vizinhos e parentes. Ninguém queria associação com uma ex-detenta. O bando foi desfeito, boca de ouro duelava com o diabo para ter seu próprio inferno. Um duelo de Titãs. Sem expectativas, tornou-se órfã social. Lembrou-se de sua mãe. Chegando em casa, com o rabo entre as pernas e desnuda de beleza, chamou: - Mãe, voltei! Posso entrar? O coração da mãe não suportou a pena e o desgosto. Um recomeço de tirar o fôlego, e o pior, sem máscara de oxigênio. Não podia escapar da viela que construiu; tentou tirar a própria vida, mas não teve tempo, seus sentidos de realeza tinham outros planos. Pela janela do quarto, seu príncipe do gueto montado numa Honda de 400 cilindradas chamara atenção. E os rojões sinalizavam uma nova era. Lá vai ela, vestida para matar, com um short tapa sexo e uma cara de santa. No submundo do crime, a má reputação é um atributo no currículo, e Coroa não tinha tempo para entrevista pessoal. Parou a moto, apontou o dedo para ela, e disse: - Quer ter uma noite alucinante? Não prometo nada, pois o meu destino é incerto. Mas juro te matar de amor.

Jaciara Dias
Enviado por Jaciara Dias em 22/12/2020
Reeditado em 12/06/2021
Código do texto: T7141618
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