Quatro balas pela honra

Eu a amava loucamente, por isso a matei.
Não podia conviver com o desprezo de quem povoava meus sonhos dia e noite.
Eu a matei devagar... Cerceando seus movimentos, queria sua boca, sua beleza, sua loucura, seus dias, horas. Mas não há como aprisionar um anjo consagrado a Dionísio e toda liberdade de quem nasceu com asas... Somente uma bala, ou quatro, a fariam parar. Eu a matei. Confesso.
Mas também confesso que ela não morreu. Desde então, viveu como uma memória cortante dentro de mim. Não tinha muito o que contar do lado de dentro... Nem fora. Então, ela preencheu esse espaço como um fantasma que silentemente olha seu algoz... Olhos de raiva e rancor... Assim ela viveu ao meu lado, na cela, no canto do quarto... E agora chegou a hora. Devo seguir para o bardo onde ela se encontra. E sei que vai repetir para eu pegar minhas coisas e sair. Não mais lutarei. Não tive e não tenho honra.
Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 20/12/2020
Reeditado em 22/12/2020
Código do texto: T7140146
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