oceanos selvagens (arrancam tudo de mim)
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Você é uma órfã. É algo que sempre esteve preso nas suas costas, te jogando para baixo, inclinando a sua coluna em direção à terra gelada.
Talvez seja por isso que você é tão alta. Você não deixou que nada te segurasse então só cresceu e cresceu até que sua cabeça bateu no teto.
Talvez você seja tão alta porque sua altura te faz parecer maior do que realmente é, faz você parecer mais completa, menos partida, e você pode esconder todo o vazio dentro de você para que os olhos intrometidos não o vejam.
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Você é uma órfã que deu sorte. Após ser uma adolescente imprudente com pulmões cheios de fumaça e olhos roxos, você finalmente acordou para a dura realidade do futuro pendente. Você sabia que não queria passar o resto da vida (isso levou um tempo, já que você não havia decidido se queria ou não viver) sem dinheiro e com garrafas de uísque quebradas entre os dentes, então decidiu tirar sua cabeça do chão e arranjar um emprego.
Você trabalhou e trabalhou por dois anos até que completou dezoito e de alguma forma, conseguiu se graduar com honras, e uma bolsa de estudos integral para a universidade Berkley, através das suas habilidades de corrida.
Você colocou apenas duas coisas dentro da mala: seu diário usado e um par de botas velho. Abraçou todos os amigos do Orfanato e nunca olhou para trás.
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Você é uma órfã. Se sentir sem valor é algo com o qual você se acostumou.
Mas quando ele te beija sob a luz suave da lua, você sente como se fosse capaz de lutar contra o próprio Deus.
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Ele é tão suave e sua pele tão impecável, e você nunca se cansa de correr suas mãos pelo seu cabelo dourado. Ele olha para você, e te beija suavemente. Você sempre vai se perguntar como conseguiu conquistar algo tão puro quanto ele mas quando ele te beija de volta com facilidade, você não pensa nisso.
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Quando ele te olha, você se sente o ser mais frágil do mundo. Sente como se o mundo inteiro deveria parar, por um instante, e observar vocês dois, que, no grande esquema das coisas, não passam de uma mera estrela na grande constelação do Universo, mas que, para você, são tudo que existe e existirá.
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Você nunca pede por nada além dele.
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Você é uma órfã. Ser indesejada é algo comum.
Então quando Charlie, o doce e gentil Charlie, termina com você por uma garota morta, não dói tanto quanto você achou que deveria.
Rejeição é algo familiar, algo que sempre pairou sob a sua cabeça, algo que parou de te surpreender quando você ainda era criança.
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Você fica com muitas pessoas após Charlie te trocar pela garota morta.
Cerveja, uísque e sexo sem compromisso se tornam os seus fins de semana. Os dias viram um borrão, se misturando, e você não consegue se forçar a importar com mais nada. Não se importa com a corrida ou com escolher algo para usar no dia seguinte, ou com o sol suave da manhã. E isso te assusta. Você se lembra como era ser uma pré-adolescente rebelde sem futuro, sem que nada de bom acontecesse, com um vazio sem fim no peito.
Você não sente nada e isso te assusta.
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Você tenta ficar com tantos estranhos quanto precisa para afastar o vazio.
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Não funciona.
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Tudo te atinge no chuveiro, toda a dor e melancolia.
A água está quente, tão quente que está deixando sua pele vermelha. Por algum motivo – talvez seja pelos seus pecados ou sua mende imunda – você se sente suja. Você pega o sabão e esfrega a pele para fora do seu esqueleto. Você tenta esfregar tudo de ruim que já aconteceu na sua vida, mas de alguma forma, não ajuda; sempre há um mais um desastre esperando para acontecer. Você acaba fazendo linhas vermelhas no seu corpo por passar as unhas na pele.
Você sente fisicamente tudo que suprimiu cair nos seus ombros. Suas pernas dobram e você se senta na banheira antes que caia de cara no chão. O spray de água escaldante bate nos seus ombros com força, com tanta força que você escuta o som ricocheteando no seu crânio (ou é isso ou você está enlouquecendo) e a água, lentamente e gentilmente, rola de suas costas para o ralo.
Você pode sentir as lágrimas lutando em suas pálpebras e você luta de volta. Faz cinco semanas desde que Charlie terminou tudo e você não chorou por ele ainda, e você não pode ceder agora. Sua garganta aperta e fica mais e mais rígida até que você engole saliva e agonia.
Charlie era felicidade infinita e luz suave, e um ponto de parada para almas perdidas. Talvez seja por isso que ele te deu um fora pela Emma: ela é mais alma perdida do que você pode ser. Ela é uma casca de um esqueleto, uma garota morta fingindo que não é um cemitério andante de ossos quebrados e lágrimas esquecidas.
Você é só uma órfã com punhos quebrados e dentes rachados e olhos sangrentos e pulmões cheios de fumaça, alguém que deu sorte uma vez e viu mais coisas erradas do que certas sendo feitas nesse mundo.
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Você realmente queria manter o Charlie, realmente. Ele poderia ter te salvado desse caminho de auto destruição. Ele te lembrava como era sorrir, algo esquecido pelo decorrer dos anos.
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Suas lágrimas misturam com a água do chuveiro, correndo para o ralo, e você espera que elas limpem um pouco da dor que repousa no seu peito.
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Você é uma órfã.
Nunca foi boa o suficiente para uma família.
Nunca foi boa o suficiente para o Charlie.
Nunca foi boa o suficiente para você.
Nunca foi boa o suficiente.
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Você esmaga sua mão, os ligamentos e juntas partidas, quando a quebra na parede do seu quarto em uma das suas crises.
A dor é estranhamente doce.
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“Ei.”
"O quê?"
“Como está sua mão?” Você puxa a mão em questão para o seu colo; o gesso parece mais pesado e te bombardeia com lembretes de que você não pode mais se controlar. .
“Está boa.” Camille te encara por um momento, sua testa franzindo, como se estivesse tentando determinar se está mentindo. Você sorri para ela, mas acaba sendo assustador pois sorrir é algo estrangeiro para você. Camille balança a cabeça uma vez e toma um gole de café. Você sabe que ela não acredita em uma palavra que você diz, mas é grata por ela não insistir no assunto. Quando escuta o suspiro incrédulo de Lilly, você joga o olhar para ela e diz “Estou bem, Lilly.”
“Claro que você diria isso.”
“Não estou mentindo, Lilly.”
“Ah, é mesmo? Você socou um buraco na parede do seu quarto, pelo amor de Deus! Está parecendo que você não dorme há semanas e você bebeu 5 xícaras de café em um uma hora. Cinco! Em uma hora! E seu quarto deve estar um desastre!”
“Lilly!” Camille olha para você como se estivesse pedindo desculpas, mas você finge não perceber.
Lilly está certa, e você não sabe como se sentir a respeito.
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Você não parece conseguir sair da cama hoje. O que, para ser sincera com si mesma, não é um problema, apesar de você saber no fundo de sua mente que é. Você decide que é melhor ficar enrolada nos cobertores até os dentes o dia inteiro; você ligou para a faculdade mais cedo e disse que não precisaria ir, então não era um problema.
Você espia por cima de seus cobertores e vê a bagunça que está seu quarto, e fica feliz que Lilly não está aqui porque ela provavelmente teria um ataque cardíaco. Roupas sujas e canecas vazias estão espalhadas pelo quarto, cobrindo a maior parte do balcão. Há pilhas e mais pilhas de trabalhos para fazer, deveres de casa atrasados, e você sabe que deveria fazê-los, mas não quer.
Suspirando, você enterra o nariz de volta nas cobertas e vira para o outro lado, com o rosto para a parede. Você tenta dormir no meio da cama agora que Charlie se foi e levou todo o calor com ele.
O lado vazio da cama te joga de frente com os seus fracassos de nunca ser capaz de manter alguém ao seu lado por muito tempo e você não gosta mais de dormir nessa cama, mas sempre se encontra em posição fetal embaixo das cobertas, triste demais para se importar.
Essa tristeza, essa dor resiliente, tem estado dentro do seu peito por semanas e você só quer que ela desapareça, mas uma pequena parte de você pensa que ela nunca vai partir.
Você se lembra de se sentir assim quando era adolescente, solitária com costelas machucadas e juntas sangrentas. Você aprendeu como lidar com esse período repentino de tempo em que você não sente nada; quando criança não tinha ninguém com quem conversar então aprendeu que era melhor engolir todas as palavras com água gelada e rezar para que estivesse tudo bem de manhã.
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Isso não funciona mais.
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Você está sentada num banco em um parque nas primeiras horas da manhã. A lua estava muito brilhante, iluminando as folhas das árvores. Você deveria estar dormindo porque são das três da manhã mas você não está cansada. Você escuta passos suaves se aproximando e você fica dura; só uma pessoa estaria acordada nessa hora do dia.
Ela se senta ao seu lado, coluna rígida e pele pálida brilhando sob a luz do luar. Você quer ir embora porque não suporta o cheiro dela, imagine vê-la. Suas unhas cravam nas suas coxas, deixando indicações crescentes através de suas calças. Você morde sua língua para se impedir de gritar, ou de dar socos cruéis (bem, talvez nem tanto. Você não pode realmente socar alguém com sua mão engessada).
“Bem, não está um pouco tarde para você estar acordada?”
“Eu juro por Deus, eu vou te matar.”
“Esse não é um jeito simpático de cumprimentar alguém, sabe.”
“Como se você merecesse uma saudação educada!” Você vira seu corpo em direção a ela, seus olhos queimando e escorpiões embaixo de sua língua. Os olhos vazios dela estão focados em seu rosto e por mais que ela tente parecer neutra, você sabe que ela está surpresa pela sua explosão.
“Altíssima, você...”
“Não! Você não tem o direito de falar assim comigo! Como se fôssemos íntimas. Traidora.”
“Não...” Ela cerra os punhos, seu olhar gélido. “Me chame assim. Nunca.”
“Oh, me desculpa, você ficou ofendida? Que bom, porque eu não dou a mínima. Você arruinou tudo!”
“O que eu arruinei? Se alguém arruinou tudo aqui, foi você.”
“Você roubou ele de mim.”
“Eu não roubei nada de você, ele me procurou. Provavelmente insatisfeito com você.” Você sente seu rosto se contorcer com pura fúria e você sabe que parece sinistra porque Emma parece um pouco assustada.
“Você. Tirou ele de mim. Eu tinha ele, ele era meu e era tudo pra mim! Eu o amava! E você tinha que entrar nas nossas vidas e pegá-lo de mim!”
“Charlie não é um objeto que possa ser seu, Laura! Ele não é seu e nem meu! Ele é sua própria pessoa, a qual nós temos o prazer de conhecer. Você sabia que tinha uma coisa que ele não conseguia entender em você? Você precisa ter como propriedade tudo que encosta! Só porque você tocou na chama não significa que é dona do fogo.”
Você range os dentes e afasta seu corpo do de Emma para que suas costas descansem no banco novamente. O rosto de Emma está vermelho e ela parece irritada mas você olha para frente; você realmente gosta de provocá-la mas seu espírito de luta se foi. Você a escuta suspirar e você quer que ela vá embora (você não lida bem com emoções e realmente a odeia).
“Ele podia ter me consertado.” Você sussurra, porque ele poderia. Charlie poderia ter te salvado dessa escuridão que se apodera do seu corpo e te faz quebrar o mundo inteiro.
“Não, Altíssima, só você pode se salvar.”
“Sério? Porque eu não vi você se salvando quando teve centenas de anos para fazê-lo! Admita, o Charlie pode te salvar, também. Você não consegue se consertar. Você é uma casca de um corpo, uma garota morta fingindo que não é. Você age como se tivesse vida entre suas costelas mas há somente ecos de nada. Você precisa do Charlie porque não consegue avançar sem ele.”
“Charlie é só o empurrão que eu preciso para me levantar, Altíssima, mas eu posso ficar em pé sozinha. Eu só preciso de ajuda. Eu não queria ser salva antes do Charlie.”
“Exatamente.” Você espera que ela não encontre significado escondido por trás do que você disse. “Ele era minha felicidade, a ponte que poderia me levar pra uma enfermaria.”
“Você é uma idiota, não é? Você está parada em um mar de felicidade em potencial!”
O silêncio preenche os vazios após as palavras serem derramadas em você. Se alguém reconhece a solidão da existência, é a Emma. A tristeza flutua ao seu redor porque Emma sabe do que ela está falando e levou centenas de anos para que ela sorrisse. Você se pergunta quanto tempo vai levar até que você consiga novamente.
“Mas eu não consigo me batizar nele.”
Em todos os seus anos você tem procurado por uma forma de se afogar nos mares da bondade mas nunca a encontrou.
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A porta range enquanto se fecha atrás de você. Suspirando e correndo uma mão pelos seus cabelos, você anda lentamente até sua cama. Você joga suas chaves na mesa ao seu lado e se joga na beirada do seu colchão. Ele range embaixo de você e ecoa o rangido de suas juntas. Você checa seu alarmente e brilha um forte 2:30 no seu rosto. Você suspira e coloca a cabeça nas palmas das mãos.
Suas mãos têm o cheiro das peles de outras pessoas e te fazem querer vomitar. Você acaba de voltar de uma ficada e se sente tão suja, sem valor e envergonhada. O coração do seu peito ainda fala o nome de Charlie e parece tão errado, amá-lo e ficar com outros cujos nomes e rostos você não se lembra.
Você agarra punhados de cabelo no topo de sua cabeça e puxa. Um grito escapa e você tenta controlar seu peito trêmulo. Acordar todos do dormitório com seus choros não é algo que você deseja fazer. Você balança de trás para frente, engolindo lágrimas enquanto estas gritam contra suas costelas. As palmas das suas mãos cravam em seus olhos e Deus, você se sente tão inútil. Você sente como se toda a sua existência fosse um erro.
“Pare de chorar… Laura. Por favor… Pare.” Você murmura pra si mesma enquanto se afoga em desespero e em todos os sentimentos que reprimiu a vida toda. Você sente falta dele. Deus, como sente falta dele.
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Você tem saudades de Charlie e de suas mãos gentis e olhos cintilantes.
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Ele te abandonou. Ele te abandonou por um cadáver vazio e você pensa nisso todos os dias, antes de dormir, ao acordar, ou enquanto fica com qualquer outra pessoa que não seja Charlie.
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Você construiu um ninho de pássaro na coluna de Charlie e quer voar de volta para casa.
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Você está chorando tanto que tem certeza de que acordou alguém e sente como se estivesse morrendo.
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Você é uma órfã. Você nunca foi habilidosa na arte de manter alguém por perto. Esse fato queimou mais buracos em você do que qualquer cigarro ou ódio.
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Você acaba adormecendo com mãos sujas e pulmões doloridos e ódio por si mesma na sua língua.
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Você sabe que suas colegas de faculdade estão preocupadas com você. Você tropeça nos degraus da escada de manhã, e olhos cheios de pena se viram em sua direção.
Você pega um pedaço de pão e corre para fora. Pena nunca adiantou nada na sua vida.
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Ellie senta ao seu lado uma noite quando você está na sala de estar, seus pés em cima da mesa de café, uma xícara de chá em mãos.
“Você está parecendo meio cansada, Laura.” Ela diz e você acena como resposta. Ela encosta no seu joelho. “Eu sei que está tudo difícil pra você, mas… Estamos aqui ao seu lado. Você sabe disso, não sabe?”
“É claro.” Você murmura. Ela suspira quando você não olha pra ela. Você não consegue se forçar a olhar pra ela com seus olhos tristes e coração negro. Você tem piorado. As noites inquietantes têm sido mais longas e os pensamentos negativos estão mais cruéis e você só quer quebrar todos os ossos do seu corpo; você quer se machucar.
“Laura, você está pensando em alguma coisa em particular?”
“Não, na verdade não.” você diz e traz a xícara para os lábios, tomando um gole do chá de camomila. Ela não diz nada e você teria esquecido da presença dela ao seu lado se não fosse pela respiração dela.
“Você é tão linda, Laura,” você a escuta murmurar e vira sua cabeça na direção dela. Ela parece estar triste. “Mesmo desse jeito.”
Você franze as sobrancelhas. “De que jeito?”
“Triste.” Sua boca paira aberta enquanto você procura por palavras para respondê-la e você acaba desistindo. Engolindo as palavras dela e piscando para evitar que as lágrimas, que estão se juntando em seus olhos, venham a cair, você desvia o olhar de Ellie e coloca seu foco na janela. O ar ainda está gelado entre vocês duas e o chá esfriou.
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Está ventando e seus olhos de safira estão colados em Charlie e Emma. Eles não te veem de onde você está. Estão sentados num banco no parque, suas mãos entrelaçadas e suas gargalhadas constantes.
Ver os dois te faz querer vomitar ou quebrar algo ou fazer os dois. Charlie ainda está na sua mente por cada segundo que se passa e você ainda odeia Emma com todo átomo do seu ser. Você ainda acorda gritando e adormece chorando e ainda quer fazer algo estúpido com si mesma.
Se sentir triste se tornou tão normal quanto as linhas em suas palmas. Isso não significa que você não quer sentir algo diferente, mas, você não sabe como.
Você desvia sua atenção deles e se dirige para sua classe.
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Você limpa as lágrimas dos olhos suavemente. Você mexe com a corda em suas mãos onde está amarrada, fazendo um nó. Os fios são afiados contra os seus dedos e você situa a corda na porta do banheiro.
Você encontrou conforto em Charlie, mas ele se foi.
Você encontrou conforto em outras pessoas, mas elas nunca serão Charlie.
Você encontrou conforto em ossos quebrados e garrafas de cerveja despedaças, mas você só consegue se quebrar até certo ponto, até que não reste mais nada.
Você encontrou conforto na escuridão da noite mas agora, só te lembra do seu coração escuro e olhos roxos e lágrimas negras.
Você não tem mais nada para te confortar, então você vai encontrar o conforto nas mãos da morte.
Você sente que não tem outra escolha.
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Você acorda com uma luz forte reluzindo. Por um segundo, você acha que adentrou os portões do céu mas então você escuta uma fungada, e você simplesmente sabe que não está morta.
Você rola a cabeça para a direita lentamente e Charlie aparece diante de você. Emma está parada ao lado dele e Camille e Lilly estão sentadas ao lado deles. Você abre sua boca e tosse levemente; sua garganta queima e parece que você engoliu espadas flamejantes. A cabeça de Charlie olha para cima de repente e seus olhos encontram os seus, lágrimas em ambos.
“Laura,” ele exprime. “Laura, me desculpa.” Ele agarra as suas mãos e as lágrimas correm livremente em seu rosto. Você permanece sem responder e sua decepção toma conta de você. Você olha nos olhos antigos de Emma e ela parece reservada e levemente triste. Você move sua cabeça para olhar para outra direção, longe de todos eles.
Você falhou na tentativa. Você não está surpresa com isso.
Fracasso é a única coisa na qual você é boa.
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O hospital te designa um terapeuta.
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Dra. Thompson é sua melhor amiga nas terças às 9:30. Ela é alta mas não tão alta quanto você, com cabelos loiros e mãos pequenas. Ela parece ser gentil. Você nunca foi boa com sentimentos então não sabe muito bem como essa coisa de terapia funciona.
“Laura, há quanto tempo você tem se sentido deprimida?” Você nunca realmente pensou sobre estar deprimida. Sempre pareceu algo que afeta outras pessoas. Agora que você olha para trás, faz sentido, você tem depressão.
“Desde que eu consigo me lembrar.” Você diz para ela e ela acena, suas sobrancelhas se unindo e tristeza é tudo que você vê refletindo nos olhos verdes dela.
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Você descobre que foi Ellie que cortou a corda no banheiro. Você teve sorte, os médicos disseram, ela te encontrou somente alguns segundos depois que você perdeu a consciência e o dano à sua pessoa foi consideravelmente reduzido.
Sua garganta queima e seus olhos parecem vidro e suas mãos parecem pesadas quando eles te contam. Eles realmente pensam que você quer estar aqui.
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“Você tem medo do escuro?” Dra. Thompson pergunta, girando a caneta entre os dedos.
“Não. Talvez seja parte do problema” Você diz. Você escuta a caneta dela ser apertada cinco vezes antes que ela responda:
“Talvez.”
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Você acaba gostando dela. Dra. Thompson é muito gentil e te escuta fazer discursos sobre justiça e moralidade e coisas que não fazem sentido nem pra você.
Você fala de Charlie bastante.
A Dra. Thompson não parece se importar quando você fala de Charlie ou da Emma estúpida.
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Você começa a dormir mais e para de ficar com tantas pessoas.
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Você tenta ser um pouco menos triste e raivosa. Nem sempre funciona mas às vezes sim.
Às vezes, você ainda sente o doce carinho da corda ao redor do seu pescoço e das lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
Às vezes, você se lembra como é sorrir, ou escutar seu batimento cardíaco por você e não por qualquer outra pessoa.
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Os dias parecem um pouco mais suportáveis. Você se sente menos pesada e menos despedaçada. Você acha que isso é uma coisa boa.
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Você é uma órfã. Mas quer ser mais do que isso.