O sopro de Iansã
Uma ventania incomum chamava a atenção dos moradores de Itapuã, na Bahia. A jovem duquesa despertou com o barulho dos fortes ventos batendo contra seu opulento casebre. Foi à sacada de seu quarto e viu a imagem: nuvens escuras, no horizonte, se aproximavam.
Algumas lavadeiras corriam para um lado e outro, tentando retirar todas as roupas antes que fossem molhadas pelo temporal iminente. Ela observava tudo um pouco preocupada, nunca tinha visto algo dessa magnitude. O sol ainda não havia se acovardado por completo; ainda fazia-se presente, mesmo que parcialmente, não deixando a escuridão tirar todo o brilho do dia.
Olhou para a imagem da santa negra, que sempre deixou na sacada, para abençoar o litoral.
"Ó, minha mãe, com os teus ventos, leve para longe essa tempestade, elas não merecem isso..."
Aquelas lavadeiras eram, na realidade, ganhadeiras que a Duquesa Ndandi - batizada Ana Maria dos Reis - abraçou para trabalharem em sua área residencial, onde não seriam destratadas pela sociedade e nem maltratadas por patrões. Parte do dinheiro do trabalho delas seria usado para pagar a carta de alforria dos outros e outras...
Um sopro forte para o norte levou as nuvens carregadas e revoltas para longe, o farol alumiou novamente e o Sol imperou. As ganhadeiras celebraram, as roupas estavam salvas.
Ndandi sorriu e voltou para dentro de casa.
"Epa hey..."