Liberdade

A brisa era suave contra seu corpo. Naquele momento, envolvida por espuma e água quente, nem mesmo o frio do inverno era capaz de irritá-la. Ana sentia o ar gelar a ponta de seu nariz, mas bastava descer o corpo e deixar que a fumaça da água aquecida a envolvesse como um cobertor macio. Eram momentos como aquele, quando o mundo inteiro se dissolvia em um borrão confuso de problemas distantes, que ela sentia os ombros relaxarem e via a beleza da vida.

Ela ergueu a mão direita em frente ao rosto e observou em silêncio a espuma deslizar pelos dedos. As bolhas reluziam pela meia luz das velas, como pequenos diamantes, em um efeito hipnotizante. Ela passou alguns minutos olhando para elas, grata porque talvez aquela fosse sua última visão. Com a mão esquerda, Ana mexeu lentamente na espuma grossa e a sentiu penetrar suas unhas. Era macia, delicada, acolhedora.

Ela então fechou os olhos e submergiu, aproveitando a deliciosa sensação de ouvir os ecos do mundo soarem ainda mais distantes. E, por alguns instantes, se deixou levar, já sentindo os membros começarem a se imobilizar, guiados apenas pela agitação da água. Sentia o cabelo flutuar ao seu redor, fazendo-lhe cócegas nas bochechas. Aos poucos, sentiu-se ficar distante, presa em um mundo só seu. Lentamente desaparecendo.

Já não pesava mais nada. Era uma sacola vazia, levada pelas correntes. Estava solta, estava tranquila. Não havia mais nada, não era ninguém. Ali, sentindo a vida lhe escapar pelos dedos, não existia. A paz movia seu corpo de um lado para o outro e, em meio ao nada, ela sentiu que poderia descansar. Sentiu que, talvez, agora de fato estivesse livre.

Mas a paz também se dissolvia, à medida que seus pulmões ardiam e clamavam por ar. A água se agitava enquanto seus movimentos desesperados a puxavam de volta à vida. Ela estava viva.

Forçando o corpo a se erguer e espalhando água, Ana sugou todo o ar que podia para acalmar a dor em seu corpo. Foi então que, em um movimento brusco e barulhento, a realidade manchou seu mundo perfeito.