A motocicleta era velha, mas parecia ser uma Harley-Davidson. O barulho do motor era forte… era possante! Possante como o olhar daquele moço da motocicleta. Era barulho de coisa que sabia correr de verdade. Ele desceu da moto e passou pelo grupo, abrindo caminho… Como se não pudesse enxergá-los direito.
– DESSA ÁGUA NÃO BEBEREI! – Berrou, apontando pra uma garrafa nas mãos de uma menina loira.
– NÃO BEBERÁ!! – Responderam todos suspendendo seus copos. – Então ele saiu.
A garota loira não o conhecia e fez um olhar de desdém e nojo.
– Ninguém te ofereceu, cara… “Dãããã...!!!”. – Ninguém riu e um silêncio se fez…
O moço da motocicleta pareceu não escutá-la. Outro garoto que estava ali, começou a falar sobre ele…
– Ihh que é isso?! Corta essa, garota… O JORGE É MASSA. É tipo assim, um gênio, um GURU! O problema é só… que meio difícil acompanhar o que ele diz…! - A menina se calou.
Cibele pareceu estar mais inclinada a apoiar a opinião do rapaz, que se chamava Gilberto… e ele continuou:
– O negócio é que ele decidiu há alguns anos, que só conversa com quem ELE quiser conversar.
– Aberração. Verdadeiro Maluco Beleza! - Resmungou a garota, de orgulho ferido.
Gilberto desprezou a garota (assim como todos os outros), e continuou a falar… Todos os outros se aproximaram… ate mesmo Cibele.
– É gente fina demais…! E ele parece jovem que nem a gente, né?! Mas dizem que têm uns 40 anos. É uma água que ele bebe… num lago, lá no condomínio onde ele cresceu, em Salvador… Uma vez o vi tocar Noel Rosa NO VIOLINO, uma das coisas mais lindas que já escutei…
Cibele olhou o mar… E viu Jorge lá na areia, estático, deixando as ondas molharem seus pés. "Será que ele falaria comigo... se eu fosse lá?".
Alguém começou a tocar “Redemption Song”, de Bob Marley, errando lindamente a letra em inglês. Mas era uma voz agradável e doce… Portanto ninguém se importava com pronuncias, palavras corretas e essas besteiras. Logo nas primeiras notas Jorge deu uma olhadinha pra trás e sorriu lindamente. Um charuto ia de mão e mão e na vez de Cibele, ela resolveu passar a bola. Cibele ainda via pequenas estrelinhas pairando no ar em sua frente. Eram estrelas azuis, piscando em frente aos seus olhos.
*CONTINUA