Olhares espelhados
Ela notou que ele a olhava. Usava roupas em tons terrosos, ao estilo dos beduínos. Um turbante enrolado em sua cabeça o protegia do sol escaldante do deserto que o rodeava. Seus pés calçavam sandálias simples que tocavam a areia quente. Em sua mão portava um velho cajado de madeira.
Sua pele estava marcada, escurecida pelo sol. Aparentava um pouco mais de 40 anos. Seus olhos escuros eram doces e ao mesmo tempo fortes, passavam confiança e sabedoria. A barba rala, por fazer apresentava alguns fios prateados, mostrando que o tempo se fazia presente.
Tinha um leve sorriso nos lábios, parecia mostrar satisfação em vê-la. Era como se estivesse contente pelo encontro, e pelo caminho que ela havia tomado.
Eles se encontravam ali, no meio do trajeto, no meio da jornada. Ele havia sentido sua presença alguns passos atrás, e havia parado. Seu corpo meio voltado para a frente, meio voltado para trás, indicava que fazia um convite para ela segui-lo.
Ele estava realmente feliz em tê-la como companhia naquele momento.
Ela sentiu o mesmo. Percebia nele grande sabedoria, percebia nesse encontro, que ele teria coisas a lhe ensinar. Sentia nele a energia dos velhos Mestres.
Sim, ele era a companhia que ela necessitava nesse momento, e passado pelos caminhos que a levaram até ali, ter feito as escolhas que fez, tinham agora como resultado esse lindo encontro.
O mais importante, notava ela, era que ela havia conseguido percebê-lo. Se não estivesse atenta, ele teria passado despercebido. Quase camuflado na paisagem, ou confundido com um andarilho qualquer. Mas ele era O Andarilho. Era aquele que ela sabia em seu coração, que um dia encontraria. Que sorriria para ela tão ternamente como sorriu.
E com um gesto, quase imperceptível a convidou para estar com ele.
Então os passos se juntaram, os sons dos pés se arrastando na areia.
Não houve conversa, não houve diálogo, não houve sequer uma palavra, pois somente a troca de olhares foi suficiente para que ambos soubessem que fazia todo sentido estarem ali.
Ambos sabiam e se sabiam.
E permaneceram assim pelo trajeto adiante, apenas caminhando. Sorrindo levemente, com os corações em paz. Serenos.
E nesse silêncio, a breve troca de olhares, fez com que pudessem enxergar a imensidão que cada um trazia dentro de si, e se reconheceram, o Universo girando em sua mais bela dança, ali, dentro dos olhares espelhados...