Pela última vez

- Vêm, senta aqui do meu lado, precisamos conversar seriamente. Faz tanto tempo que você não aparece aqui, e quando está longe, mal dá notícias. Preciso saber de você, como está a sua saúde. Conta pra mim do seu emprego novo! Já casou? Ou continua a zanzar por aí, pelos bares e puteiros da vida, desperdiçando sua vida, seu tempo.

- Não quero conversar, estou com pressa. Dá-me nos nervos entrar nesse quarto. Sentir esse cheiro de urina e remédios me da engulho, sabe? Sei que está doente e passa parte do dia nessa solidão maldita deste quarto, no entanto, eu tenho a minha vida, as minhas coisas. Se eu vivo em bares e puteiros é problema meu; prefiro gastar o pouco que tenho com mulheres e bebidas e ser feliz, do que ficar aí igual à senhora, metida nessa camisola ridícula.

- Respeita a tua mãe, menino! Você saiu de mim, tem meu sangue, mas é teimoso igual teu pai.

- Eu não sou teimoso!

- Como não é? Vive uma vida toda errada, cheia de pecados; ou tu achas que vai para os céus vivendo nessa perdição.

- Há mamãe. Queira me desculpar, mas esses teus pensamentos são deverás ultrapassados. O mundo mudou, assim como mudaram o pensamento das pessoas. A senhora viveu em uma época diferente, onde as coisas eram mais fáceis...

- Opa! Peraí! Fáceis? É essa tua geração perdida que acha tudo simples. Que vive a reclamar de tudo. Como dizem por aí: vocês são um bando de mimizentos.

- Minha querida e amada mãe. Mesmo doente continua lucida, mas fala muita besteira. Bem, eu vou-me embora. Não quero ficar aqui perdendo meu tempo com discussões fúteis. Vou ali viver a minha vida, beber e frequentar os puteiros da vida; quanto à senhora eu torço para que melhore e saia dessa cama o mais breve possível.

Quando a porta fechou a mãe ouviu pela última vez os passos do filho pela casa; aos poucos o som da sola do sapato foi sumindo. Ela, enfiada em uma camisola fechou os olhos também pela última vez. Na rua, o filho não sentiu o coração de a mãe parar de bater, tão pouco pensou nela sequer um segundo e decidiu que nunca mais voltaria aquele lugar, deixaria a mãe nas mãos de Deus.

FIM....

Fernando F Camargo
Enviado por Fernando F Camargo em 28/11/2020
Código do texto: T7122926
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