O Retrato de Um Ser
Seus olhos dissimulados traziam consigo a mais calma dor.
Era agonizante.
Uma agonia taciturna que se escondia no ínterim de sua alma.
Nem ela conhecia tal estado de seu próprio ser.
E então ela se esgueirava.
Esgueirava-se, entre uma grande avenida, pedindo esmolas a quaisquer um que passasse.
Seu integridade, sua dignidade… deixou-os para atrás a um tempo tão remoto que me recuso citar.
Ao menos, mantinha seu orgulho
O orgulho de ser um espírito pobre; incapaz de aceitar sua atual condição.
Ela via isso como um sinal de nobreza, mas que pensamento pueril de sua parte.
Sua suposta nobreza apenas a levava a estados mais alarmantes de calamidade.
Sua própria alma queria escapar de seu ser.
Nem ela mais suportava.
“Tão repugnante. Tão repugnante. Tão repugnante”, seu ser gritava.
Ela ainda não havia entendido: não havia lugar fora de si.
Procurando abrigo em outras pessoas,
Tornando-se cada vez mais dependente dos outros.
Ela foi tomada.
Por aquilo que sempre renunciou.
Seu ódio. Sua loucura. Sua presunção. Sua dissimulação.
Tão escondidos de si mesma que, quando a encontraram, ela não resistiu.
Na verdade, ela nunca esteve viva.