DESTINO CERTO (BVIW)
Pegou o caderno há tempos esquecido na escrivaninha. Esboçou na mente o conteúdo. Uma saudade latente. Um sentimento de culpa em um misto de arrependimento. Iniciou a carta.
Olá! Você não faz ideia do quanto me custa escrever esta mensagem. A demora foi proposital, faltava-me coragem e ânimo. Relutei. Certos assuntos, melhor não remexer. Preferi deixar discreto nas entrelinhas do pensamento, mas hoje acredito ser melhor exteriorizar, ainda que no papel. Questiono a razão de não desistir dessa espera inútil, melhor arregaçar as mangas da coragem e partir para o que é assertivo. Não viu quanto se passou? Não vê no espelho a mudança do seu reflexo o tanto gasto desnecessário? A vida, minha cara, não parou. Só você. Estacionou no momento bom, e acreditou ser realidade o que não passava invenção sua. Quando ainda se sonha plural, há chances de realização, porque o desejo coletivo tem muito mais força e poder que uma solitária andorinha de ideias. A gente tem mania de achar que tem controle sobre as situações, por isso essa de imaginar finais felizes do jeito que se quer. Ande! Desfaça-se dos nós. Liberte-se das lembranças, e de tudo o que não deu certo. Há tanto chão para se pisar, e um caminho longo para seguir, trilhe rumo novo ao que de fato a fará feliz.
Interrompeu a escrita. Pousou a caneta sobre o caderno. O olhar se fixou na palavra feliz. Com nenhuma pressa deslocou a folha do espiral, releu o que escrevera, talvez revisando algum possível erro, mas não. De súbito amassou o papel e atirou na lixeira. A mãe entrou na sala a tempo de presenciar a cena. Perguntou:
- Jogou fora a mensagem? Não gostou do que escreveu?
- Até gostei, foi libertador. Era uma carta com destino certo.
- E desistiu de enviar?
- A carta já foi lida. Era para mim mesma... Ela estava guardada por vários anos dentro de mim, hoje a libertei quando a transferi para a folha. Todos os dias, mãe, a vida abre-nos páginas em branco. Cabe-nos escrever belas histórias a cada novo amanhecer. Estou pronta para amassar o que não me serve mais.
Olá! Você não faz ideia do quanto me custa escrever esta mensagem. A demora foi proposital, faltava-me coragem e ânimo. Relutei. Certos assuntos, melhor não remexer. Preferi deixar discreto nas entrelinhas do pensamento, mas hoje acredito ser melhor exteriorizar, ainda que no papel. Questiono a razão de não desistir dessa espera inútil, melhor arregaçar as mangas da coragem e partir para o que é assertivo. Não viu quanto se passou? Não vê no espelho a mudança do seu reflexo o tanto gasto desnecessário? A vida, minha cara, não parou. Só você. Estacionou no momento bom, e acreditou ser realidade o que não passava invenção sua. Quando ainda se sonha plural, há chances de realização, porque o desejo coletivo tem muito mais força e poder que uma solitária andorinha de ideias. A gente tem mania de achar que tem controle sobre as situações, por isso essa de imaginar finais felizes do jeito que se quer. Ande! Desfaça-se dos nós. Liberte-se das lembranças, e de tudo o que não deu certo. Há tanto chão para se pisar, e um caminho longo para seguir, trilhe rumo novo ao que de fato a fará feliz.
Interrompeu a escrita. Pousou a caneta sobre o caderno. O olhar se fixou na palavra feliz. Com nenhuma pressa deslocou a folha do espiral, releu o que escrevera, talvez revisando algum possível erro, mas não. De súbito amassou o papel e atirou na lixeira. A mãe entrou na sala a tempo de presenciar a cena. Perguntou:
- Jogou fora a mensagem? Não gostou do que escreveu?
- Até gostei, foi libertador. Era uma carta com destino certo.
- E desistiu de enviar?
- A carta já foi lida. Era para mim mesma... Ela estava guardada por vários anos dentro de mim, hoje a libertei quando a transferi para a folha. Todos os dias, mãe, a vida abre-nos páginas em branco. Cabe-nos escrever belas histórias a cada novo amanhecer. Estou pronta para amassar o que não me serve mais.