A VISÃO DE QUEM SONHOU (BVIW)

Ontem participei de um encontro entre amigos e o tema escolhido para a conversa foi poesia e os seus autores. Depois de muito ouvir resolvi me manifestar. E por me encontrar num daqueles dias de baixo astral – o que é raro – parti para o desabafo e para tal, nada melhor do que me socorrer da poeta portuguesa Florbela Espanca (1894/1930) e suas cartas, mais precisamente a de n. 147, onde diz que o mundo dela não é como o dos outros e confessa que sempre quis demais, exigiu demais, e que existia nela uma sede de infinito, uma angústia constante que nem ela mesma compreendia, haja vista não se considerar uma pessoa pessimista; considerava-se uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sentia bem onde estava, que sentia saudades... Só não sabia do quê.
Imaginei-me Florbela, pois às vezes sou tomada do mesmo pensamento de que vivo num mundo diferente, que mais parece o teatro do absurdo de Samuel Beckett onde me cabe o papel de Estragon ao pé de uma árvore “Esperando Godot”.
Melhor seria se eu me visse numa nova versão de Gregor Smsa, personagem de Kafka, que despertou numa manhã na sua cama de sonhos inquietos e viu-se metamorfoseado num monstruoso inseto. Pelo menos nessa metamorfose operou-se além da modificação física uma alteração de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões.
- Acorda dona Zélia! Tá sonhando com coisa ruim! Cadê o sorriso de bom dia! E o agradecimento pelo café na cama? – BOOOOM DIIIIA, MARIA!!