Rockstar: A Ascenção de Johnny(4ª parte: "O Amor é Bonito de Se Ver")
Uau, eu nem acredito que conseguimos logo de cara entrar num concurso de bandas de rock nessa cidade esquisita... como se chama mesmo? “Pedralva”, nossa, dizem que rola uns festivais maneiros de rock por lá Luci... E você viu a cara do rapaz que estava listando as bandas quando me viu tocar guitarra? Parecia até que ele...
_Johnny, cala a boca, estou tentando me comunicar com os meus colegas de trabalho!
Ele dirigia sua Ferrari, com um olhar distante e o dedo indicador da mão esquerda repousada sobre sua têmpora esquerda:
_Algum problema?
_Ah, o de sempre. Eu não posso ficar fora por alguns dias que o inferno vira uma bagunça. Estão tentando me derrubar do trono neste exato momento... Belzebu escreveu um manifesto! Um manifesto!! Eu achava que ele era analfabeto até hoje... Alguns idiotas criaram um sindicato dos demônios no inferno Johnny!! É inadmissível... Ah, você!! finalmente consegui me contatar com “vossa excelência” _ disse Luci como se alguém houvesse atendido um celular no outro lado da linha_ Sabe o que tá rolando no inferno nesse exato momento? Ah que surpresa, você já sabia! Pois resolva! essa bagunça é culpa sua...Claro que é, quem foi que despachou aqueles dois últimos idiotas pro inferno? Foi você, e agora eles se uniram com o imbecil do Belzebu e estão tocando o terror por lá... Ótimo! Depois que eu resolver meus assuntos na terra eu volto, eu só podia entrar lá uma vez eu já o fiz... Não é da sua conta o que eu fui fazer lá... Relatório? Ele é onisciente, Ele sabe porque eu fui lá...Ah, protocolo...eu vou dizer aonde você vai enfiar esse protocolo seu...
_Cuidado Luci! _ Gritei enquanto ele desviava de um caminhão na autoestrada sem parecer se preocupar com outra coisa que não fosse a sua “ligação” _ Aff... Eu fui buscar um livro na minha biblioteca...satisfeito? Sim, pro garoto... Ótimo, agora dê um jeito nos dois idiotas que você mandou, eu lido com Belzebu quando eu voltar pro inferno. Não, fique você com Ele.
Luci abaixou o dedo da têmpora e olhou em minha direção com um olhar furioso:
_Johnny, eu preciso beber!
Paramos em um bar bem peculiar, onde haviam quadros religiosos nas paredes ao lado de mulheres seminuas fazendo propagandas de cerveja. Luci, ainda em sua forma Punk entrou ordenando para que um homem velho que cutucava o nariz atrás do balcão o servisse vodca ou cachaça:
_Eu tenho os dois, qual você prefere meu jovem? _ Perguntou o velho que ainda cutucava o nariz sem medo algum de ser taxado de anti-higiênico através dos olhares da vigilância sanitária...e bem, de todos os outros olhares também:
_Eu quero que você misture tudo em um só copo, meu caro Antenor e quero também....
_Como você sabe meu nome? _ Perguntou o velho que agora parara de cutucar o nariz.
_Eu sei o nome de todas as pessoas que eu arrastarei para o inferno comigo. Digo, se ainda houver um inferno até o dia de sua morte né, porque eu não posso nem descansar que já estão tentando me apunhalar pelas costas Seu Antenor! Você acha que isso está certo?
Seu Antenor não piscava, mas tentou dizer alguma coisa antes de ser interrompido pelo desabafo de Luci:
_Eu deveria imaginar, eu fiquei muito mole com o passar das décadas... Mas tudo bem, eu vou resolver essa merda toda. Não se preocupe Seu Antenor, uma chama quentinha só pra você lhe aguarda juntamente com uma eternidade de dor e agonia! Eu lhe garanto! _ O tom de voz de Luci era de piedade, como a de um corretor de imóveis que vendera uma casa com infiltração, mas tomado pelo arrependimento fazia de tudo para que os clientes ficassem satisfeitos com seja lá qual fosse a solução daquele problema.
_Eu não me lembro de você, mas vou encher seu copo rapidamente...Você está precisando beber.
Ficamos um tempo sentados à mesa daquele bar estranho. Luci estava novamente em uma chamada telepática com alguém de outro mundo enquanto uma pequena aglomeração se formava em volta da tão famigerada Ferrari estacionada de maneira irregular logo do outro lado da rua. Luci parecia furioso, e eu estava um pouco preocupado. Mas logo minha preocupação dissipara-se no ar como uma névoa frente aos raios de sol quando recebi a notificação em meu celular de que Clayton havia me mandado uma mensagem. Tentei disfarçar a minha empolgação ao abrir a mensagem, mas não consegui segurar meu sorriso quando li que ele me chamara pra sair, apenas nós dois, pois ele gostara de mim de um jeito que ele só poderia explicar enquanto bebíamos e falássemos sobre música:
_ Mas é claro, eu sabia que aquela mosca nunca seria capaz de fazer algo ssim sem ajuda... “Leviatã”, eu deveria ter imaginado... Tudo bem Azazel, você tem minha permissão. E tente não ficar muito perto daqueles dois... Eu não confio neles...Nem em você eu confio, mas uma energia maléfica emana deles, então cuidado... Eu sei que somos maléficos também seu idiota! É uma forma de expressão. Segure as pontas aí. Até logo.
Luci fixou seus olhos vermelhos em mim e disse:
_ Johnny, eu sei que você é mais burro do que uma pessoa pobre que apoia presidente neoliberal cujo o mesmo neoliberalismo fajuto só se aplica aos seus filhos, mas mesmo assim eu te pergunto: Você acredita no bem e no mal?
_C...Como assim? Claro que acredito Luci, já presenciei os dois lados.
Luci virou mais um copo de cachodca (nome que eu inventei para aquela mistura estranha) e continuou a me encarar:
_Sabe Johnny, você é um cara legal. Mas nem tudo é preto no branco. Nem todo o anjo é bonzinho, vai por mim...
_O que está rolando Luci? Do que você está falando?
_Depois eu te explico. Eu tenho que comprar instrumentos novos pra vocês. Como vocês vão se apresentar em um festival com aquelas merdas barulhentas? Enquanto eu faço as compras, reúna a banda na sua casa. Aproveite que você vai estar com o Clayton e pegue carona com ele, já que eu vou ter que usar minha Ferrari para carregar tralhas.
_Luci, pare de ler minha mente, isso é invasão de privacidade!
Ele sorriu sarcasticamente e respondeu:
_Eu não precisei ler sua mente pra saber que você vai encontrar com ele, garoto.
E então ele se levantou e empurrou todo mundo para longe de sua Ferrari enquanto saía em disparada gritando algo como: “Isso é só um carro seus imbecis!”
Fiquei sozinho no bar refletindo sobre os acontecimentos recentes e voltei meu olhar para Seu Antenor, aquele velhinho quieto e calmo que voltara a cutucar o nariz, mas agora com um ar sombrio em seu rosto. Me senti um pouco mal quando imaginei que logo ele estaria no inferno sofrendo... assim como eu futuramente.
Eu mal fui capaz de acreditar que eu e Clayton havíamos nos beijado! Foi antes dele dar a partida em sua caminhonete. Ele falava algo sobre levadas de bateria do Neil Peart em seu tributo a Buddy Rich, tentando contornar o errôneo pensamento de que havia me constrangido com a nossa conversa anterior aonde ele disse que algo dentro dele despertou no primeiro dia em que me viu, quando eu o interrompi com um beijo. No começo era como se fôssemos dois adolescentes, mas logo já éramos dois adultos se beijando loucamente como se fôssemos realmente dois adolescentes. E enfim chegamos em casa, e Ana e Tamara conversam sentadas no chão de frente para minha quitinete.
Me desculpei pelo atraso de alguns minutos e logo estávamos todos reunidos em casa, como na primeira vez, só que agora com uma sintonia forte que nos unia de forma inexplicável:
_Tamara, essa sua música nova vai ficar irada para a abertura do nosso show no The Rockvote! _ Disse Clayton enquanto preparava sua bateria.
_Concordo_ Complementou Ana_ Essa música vai ser perfeita. Aliás, Johnny, não sei como você conseguiu nos colocar neste concurso de bandas, mas vai ser irado demais! Estou mega empolgada!
_E eu estou de olho no prêmio_ disse Tamara_ Dez mil reais e um contrato com uma gravadora? Parece bom demais pra ser verdade!
_A gente vai conseguir_ Respondi empolgado com a energia da banda_ Vênus em Marte vai conquistar o mundo!
De repente Luci entrou chutando a porta enquanto segurava alguns equipamentos de sons com as duas mãos:
_E aí seus otários! Tem mais coisas na Ferrari, me ajudem a preparar tudo. À partir de agora vocês são profissionais do rock, logo, vocês trabalharão apenas com instrumentos de alta qualidade!
Fiquei realmente impressionado com o empenho de Luci em ajudar a banda. Ele se dedicara bastante e comprara os melhores equipamentos. Todos estavam impressionados. Mas havia algo estranho com Luci, e eu não sabia dizer o que era.
Por fim, depois de tudo montado, estávamos prontos para ensaiar, e eu estava empolgado para me exibir com meus novos talentos musicais. Mas antes do teste, Luci me chamou no canto e disse baixinho:
_Ei Johnny, quando você ver que deu merda, abra o livro que te dei na página 666. Siga as instruções de lá. E cuidado. Lembre-se do que eu disse: “Nem todo o anjo é bonzinho”. Vou passar na Marisa para comer um X-tudo, pois ainda tenho algumas horas antes de ser capturado...
_De que porra você tá falando Luci? Como assim capturado? _ Perguntei apavorado:
_Apenas faça o que disse, e vê se não morre.
E então Luci saiu pela porta, e antes de fechá-la ele olhou para mim e Clayton, depois para Ana e Tamara, e sorriu ao dizer:
_Fico feliz por vocês. O amor é bonito de se ver.
E partiu.