UM CONTO DENTRO DELE (BVIW)

 
Era tradição do renomado colégio, todo fim de ano convidava escritores para a apresentação de trechos das suas obras, a fim de despertar nos alunos o interesse pelo enredo e o gosto pela leitura. Nestor Quintanilha subiu ao palco italiano com alguma dificuldade. Não pelo peso da idade, sim pela história a ser narrada.

Era década de 30, - iniciou o autor -, havia uma crise no País. Não muito diferente do que ocorre hoje, e Terê e Bené eram apaixonados. Daquele amor que vira poesia, faz do inverno primavera, e as lágrimas cedem lugar aos sorrisos fartos. A situação do País foi o motivo de grande reviravolta na vida da jovem. Quando Terezinha soube que o pai resolvera mudar para a Rússia, sentiu um grande mal estar. Como assim!? De repente! E o seu grande amor? Benedito ficaria arrasado ao receber a cruel notícia. Embora se amassem imensidão, os dois nunca se afirmaram um para o outro. Eram olhares. Eram trocas de sorrisos. Apenas insinuações sem nada declarar. Por saber que Bené apreciava, Terê certa vez levou um potinho de doce de carambolas para ele. E o amado escreveu uns versos, mas não teve chance de entregá-la. Ao mesmo passo que ardia a paixão entre os jovenzinhos, havia obstáculos. No dia da despedida da amada, vendo o navio partir, partido e solitário ficou seu coração. Acenando-lhe com um lencinho branco com detalhes dourados, Terezinha chorava efusivamente dando a impressão, de ser por causa dela, o aumento do nível do mar.

Finalizando a apresentação, Nestor lamentou pelo casal não ter vivido um belo romance. E chorou. Alguém da plateia quis saber o motivo do choro. - Porque era ele dentro do conto. – Respondeu-lhe a amiga, e olhando para Nestor, disse:

- Que importa essa distância a separar, essa imensidão oceânica entre dois? Quando há afinidade oceano transforma-se rio, e a longa distância torna-se mero detalhe. Mas o autor salientou:

- Amor não sobrevive de palavras, é preciso cheiro, toques, e que ele seja consumado. Amor é presença, o mais, é lembrança.