Cartas de Tarô
Eu deveria estar preparada para aquele dia – afinal, todos os acontecimentos nos levavam até ele. Impossível fugir ao inevitável. Mas a gente sempre tenta se enganar, dizendo que as coisas estão melhorando, que de repente, tudo pode mudar e que Deus vai nos dar mais uma chance, pois fizemos tudo direitinho e não merecemos que algo ruim nos aconteça. Coisas ruins não deveriam acontecer a pessoas boas.
Mas acontecem.
Vem a foice da Morte e ceifa tudo de repente, vem o vento e derruba nossa tão segura Torre, arremessando os personagens dentro do abismo. E quando estamos junto ao solo, nos arrastando devagar e tentando contabilizar o que sobrou de nós que ainda está inteiro, enfiamos por acaso a mão no bolso e descobrimos as sementes: há quanto tempo estavam ali? Meses, anos, séculos?
Nós as jogamos no solo nu e sem promessas, na esperança de que brotem. E elas um dia brotam. O solo se cobre de verde em tons de esperança e vida nova. Se não fosse pela queda, elas – as sementes - acabariam mofando ali, junto às costuras do bolso do casaco.
E a tal pergunta que martelava nossas cabeças no momento da queda, que era: “Por que?” Finalmente é respondida: “E por que não?”