VALDEMAR PÉS DE BICHO - 1

Naquelas montanhas recobertas pelas matas exuberantes, vez ou outra alguém avistava aquela figura humana que se fazia desaparecer na vastidão verde. Esses rumores chegavam no lugarejo.

Entre os moradores da cidade que não passava de um arraial distante de tudo, dizia-se que aquela figura meio bicho meio homem, seria o Valdemar Pés de Bicho, apelido que ganhou o sujeito enlouquecido provindo da cidade grande, na sua rapidíssima estadia nos becos do arraial, antes de ser expulso dali, em razão do medo que causava nos residentes do lugar, tendo-se embrenhado nas matas sob as vistas de alguns.

Com o passar do tempo a curiosidade foi se fortalecendo e planos para localizar o sujeito foram sendo elaborados nas cabeças de alguns.

Aqueles mais ponderados se mostravam contra, pois entendiam que se o sujeito não vinha perturbá-los, deveria ser deixado sossegado.

A curiosidade venceu.

Um grupo de rapazes falastrões, equipados rudimentarmente, levando um mínimo de provisões, resolveram ir para as montanhas visando encontrar o dito homem, que alguém afirmara ter visto recentemente.

Saíram os quatro rapazes antes de raiar o dia.

Quando clareou já se encontravam dentro da mata e por ela foram se adentrando cada vez mais.

Eles conheciam bem os arredores, mas nenhum conhecia por dentro a floresta que recobria as montanhas. Seguiram trilhas quase imperceptíveis que desapareciam quando em vez, no meio do emaranhado de cipós e arbustos miúdos sombreados pelas grandes árvores.

Nenhuma pista, nenhum sinal do suposto homem a quem procuravam; resolveram voltar, caminharam um certo tempo e perceberam que a direção que tomaram foi enganosa, não sabiam para onde estavam indo e o por do sol já anunciava que a escuridão da noite estava próxima.

Certos que não sairiam da mata antes do escurecer, limparam precariamente um pedaço de chão próximo a uma grande árvore, cortaram folhagens para forrarem e se cobrirem, comeram uma parte do que levaram, precariamente acomodados esperaram a noite chegar.

Nenhum deles tinha vivido a experiência de uma noite na selva. Desconheciam os perigos mais simples, como a umidade natural, formigas, mosquitos. Achavam que as onças é que seriam a ameaça maior.

Praticamente não dormiram, dado ao desconforto e o medo. Levantaram quando puderam enxergar, alimentaram-se precariamente e resolveram caminhar em uma direção imaginando que pudessem encontrar alguma trilha que os tirassem dali.

Na cidade, o apavoramento dos familiares fez a notícia do desaparecimento deles se espalhar.

Com exceção de caçadores, a maioria dos moradores não tinham nenhuma experiência em caminhadas na mata, sobretudo naquela da serra.

Os caçadores também raramente andavam por lá, pois os bichos de caças de suas preferências não costumavam ficar nas partes mais densas da floresta.

Formaram um grupo de homens e cães farejadores e partiram para as montanhas. Sabiam que precisavam ter saído mais cedo, o que não foi possível dado à necessidade de se organizarem e se equiparem minimamente.

Sem noção de direção, os jovens seguiam caminhando até que chegaram a uma cachoeira de altura abismal. Não tinham como seguir naquela direção. Imaginaram que seguindo o curso da água chegariam a algum lugar conhecido, no entanto, como desceriam naquele abismo. Seria uma descida muito perigosa e eles já debilitados em consequência da precária alimentação, da noite mal dormida e da canseira da caminhada. Resolveram que iriam descer, contornando os lugares mais íngremes.

Já beirava o meio dia quando grupo de resgate chegou ao sopé das montanhas.

Os quatro jovens iniciaram uma muito arriscada descida, mesmo que tentando contornar aquele despenhadeiro. Não conheciam o lugar e não tinham experiência nenhuma sobre a vida na mata virgem, com o agravante de estarem beirando um precipício .

O que eles talvez não tivessem pensado, aconteceu. Desceram até um lugar, do qual não conseguiriam retornar e continuar descendo também seria quase um pulo para morte. Não viram outra saída a não ser arriscar ainda mais suas próprias vidas descendo aquele paredão de rochas com raleados arbustos frágeis.

Continua

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 27/10/2020
Código do texto: T7097255
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