A GATA CATARINA
 
Hoje, um tanto nostálgico, decidi contar minha história. Ao longo de minha existência, enfrentei um sério problema de identidade. Minha dona, ao visitar uma tia que, há pouco, havia tido uma bebê, ganhou-me do tio. Na ocasião, foi explicado que eu era um menino. À menina, de dois aninhos, isso não fez diferença. Deu-me o nome de Catarina. Era Catarina para cá, era Catarina para lá. Seus carinhos eram bastante grotescos. Eu os aguentava por ser ela pequenina. Ora pegava-me pelas orelhas, ora pelo dorso, ora pelo rabo. Minha vida não era nada fácil! Meu passatempo era caçar passarinhos e pombas.
Ao ficar preso no galpão de arroz, tive a oportunidade de conhecer um Rato e um Galo.
O Galo perguntou-me:
– A pirralha te deu férias?
– O que são férias?
O Ratinho, todo serelepe, falou:
– Ter liberdade e não ficar o tempo todo sujeito aos amassos e torturas da menina.
O Galo, mais ponderado, disse:
– Férias é um período de descanso.
“Catarina”, desencantada com a vida, respondeu:
– Não é nada disso. Sou macho e a pequena insiste em me chamar de Catarina. Os demais bichanos e cachorros olham-me com desdém, sinto-me desprestigiado. Já pensei em ir embora, mas temo pela menina. No fundo, ela me ama muito.
– Sendo assim, procura-nos quando quiseres desabafar tuas dores e mágoas.
Ao ouvir: “– Catarina, onde estás?”, o Gato interrompeu o bate-papo, deu um longo miau e afastou-se dos novos amigos.
 
Anos depois, quando “Catarina” morreu, a menininha ofereceu-lhe um bonito funeral. Dele, participaram o Galo, o Rato e alguns animais que passaram a tratá-lo com respeito.
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 24/10/2020
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