Muito tempo antes de surgir a noção de educação inclusiva, os professores lidavam com crianças em diferentes realidades.
Na minha classe naquele ano, havia uma menina de oito anos que tivera a perna esquerda amputada, a tragédia teria ocorrido por conta do desabamento da casa dela...
No dia das crianças, normalmente, os meninos ganhavam os carrinhos e, as meninas uma bonequinha, só para a data não passar em branco. E, era um dia destinado às brincadeiras, ao teatrinho e, principalmente à poesia... ensinávamos as crianças recitá-las... e, também a música.
Notei a tristeza de Mariza, amuada no canto da sala de aula, era a menina da perna amputada, ao contemplar a boneca, com as duas pernas... Esfregando seus dedinhos no par de pernas.
Num ímpeto, peguei a boneca, em tom sério, informei que ela precisava de ir ao médico... era urgente! Arranquei-lhe a perna esquerda dela... e, devolvi a boneca à menina.
Os olhinhos brilharam e, um sorriso extenso apareceu... agora ela se parece mais comigo, posso então chamá-la de minha filha...
- Fêssora, batiza ela! Minha satisfação em ver a felicidade nascida com a identificação que ela sentiu e, disparei o nome: Maria Sacizinha... pronto! Está batizada e, eu sou a madrinha... Depois eu lhe faço umas roupinhas...
Guardei a perninha desencaixada na gaveta da mesa de aula. Fechei com cuidado, como se realmente houvesse algo vivo lá dentro... Ao ver, a expressão feliz de identificacão de Mariza, já não sentia tanta culpa por ser multiladora de bonequinha em pleno dia da criança.
Nós, educadores, sempre nos importamos com o bem-estar do aprendente, em fazer das diferenças, não abismos, mas meios de aproximação... No fundo, somos parte de um enorme mosaico... um encaixa no outro. Um perna a menos pode significar uma felicidade a mais... se a troca é justa, não sei, mas com certeza, é uma confissão indecente...
Por favor, apoiem os profissionais da educação inclusiva, não discriminem crianças e adolescentes por suas diferenças. Há tanta humanidade neles quanto em qualquer um de nós.