Júlia andou sem rumo naquela rua comprida que parecia não acabar nunca. Seus pés iam rasgando as calçadas, tentando acalmar aquela tempestade em seu coração. Sempre andava muito em seus dias de angústia e sentia até um certo alivio, mas naquele dia, nada parecia acalmar aquele sentimento de solidão. Não ter mais sua mãe significava a perda de um ponto de referência, e sentia como se estivesse dirigindo um carro sem GPS. Sentou-se naquele mesmo banco, um lugar que sempre a acolheu quando precisava tomar uma decisão dificil. Costumava dizer: "-Mãe, você tem um botão mágico!" Depois de um tempo, levantou-se, continuando a caminhada quando aquela voz suave surgiu do nada: "Filha, não se esqueça!" o botão mágico não é meu, todos nós os temos; é preciso ter coragem para apertá-lo na hora certa". Lembrou-se quando saiu de casa para viver sua vida, e, sua mãe, à porta, ficou a olhá-la em seu avental azul, sem falar nada, enxugando as lágrimas. Os olhos marejados de Júlia misturando-se com o azul daquele avental dava a sensação de estar tocando um pedaçinho do céu. Carregando a mala, foi em direção ao carro e virou-se quando a ouviu chamar seu nome. Sua mãe, com o dedo indicador direito, pressionou a palma esquerda de sua mão, simulando um botão - e aquilo seria para sempre um código secreto entre elas. Sorriram entre lágrimas. Naquele dia Julia foi-se embora para viver sua vida, mas sabia ser aquela casa seu porto seguro, assim como aquele botão mágico que era apertado com abraços, carinhos, dando-lhe sempre as respostas certas, mesmo que às vezes optasse pelo silêncio. Olhou para a palma de sua mão e percebeu que hoje tentaria visualizar aquele botão, pedindo sabedoria. Ela havia crescido e, de agora em diante, teria que ser a responsável pelas suas próprias mágicas.
Tema: Escrever um Conto, cujo título deverá ter duas palavras.