299 - A Aula
Tudo o que fazemos tem consequências. Não fazer é ainda uma opção que também terá resposta. Viver é interagir, não interagir é ainda uma forma de viver. Alguém quer dizer alguma coisa? Questionar? O silêncio geral , sempre suspeito, levou o mestre a especificar o seu raciocínio. Muitas vezes as verdades têm de aparecer óbvias ou, simplesmente, as ignoramos. Inferir é conhecer caminhos paralelos. - Muitos dos que fecham os olhos não estão a dormir, disse a Maria . Fingem que dormem, se não fingem incomoda-lhes a luz ou, muitas vezes, acham que sem ver pensam melhor sobre os assuntos. Há ainda os que, de olhos fechados, sem ver, não pensam. Isolam-se. Alheiam-se. O isolamento, disse o professor, exclui do todo a parte isolada. Quem se afasta do tema, ou tem outro para fazer avançar, ou é indiferente ao que se discute. Todos se mostraram atentos menos Joana. Era por natureza, revoltada, contestatária, sempre pronta a dizer que não e a defender outros percursos e razões. Não gostava de aulas de Lógica por achar que se mastigavam ali ideias conhecidas, por entender que qualquer problema gera soluções tanto mais velozes quanto mais aguda for a situação. Ela tinha consigo a maior questão. Depois das fugas de casa, dos perdões e dos regressos, das promessas vãs, ela estava grávida, o companheiro não sabia, provavelmente não quereria saber, ela desejava ter aquele filho e nenhum indício havia que lhe mostrasse que seria fácil. Equacionou muitas vezes a questão e hoje, ali, aprendeu que tinha de resolver tudo por partes. Quando a aula acabou, ligou-lhe. Octávio, o seu namorado, veio logo a seguir. – Um filho? Isso, Joana, apressa tudo. Já pensaste no vestido? No que dirão os teus pais? – Temos, ainda, algum tempo, respondeu. Nesta questão já decidida, se ficares ao meu lado, não me importo de ser contra. Quanto ao vestido este serve e tu como estás és bonito, disse.