Amnésia Alcoólica

Não me lembro das melhores passagens da minha vida, porque em geral eu estava bêbado. As piores lembranças estão vivas na minha memória, porque eu estava sóbrio.

Destaco aqui uma passagem que guardei a sete chaves, mas que hoje a julgo delito prescrito. Certa feita saímos eu e meu cunhado para tomarmos uma cerveja num barzinho. Meu cunhado, eterno playboy que não carrega embrulho, não dá mão a pobre e nem faz favor, convidou uma de suas namoradas para nos acompanhar, convite que ela prontamente aceitou. A moça bem trajada tinha a roupa tão justa que parecia ter sido envelopada à vácuo. Dentre os acessórios, destacavam seus brincos que pendiam das orelhas até quase tocarem os ombros. A certa altura, sentindo que as peças iriam rasgar-lhe as orelhas, causando muita dor, a moça pediu-me que as guardasse em meu bolso, já que seu amante não se prestava a estas coisas e a sua própria roupa tão justa não comportaria tamanhos objetos. Educadamente me prontifiquei e guardei os brincos em um dos bolsos da minha jaqueta. Ao final do encontro a moça os pediu de volta e eu, aliviado, os devolvi. No dia seguinte saí com minha esposa que a certa altura também pediu-me para eu guardar seus brincos no bolso da minha jaqueta, a mesma que eu havia usado no dia anterior. Ao final do nosso passeio, voltamos para casa. Passados alguns dias, convidei minha esposa para sairmos outra vez e outra vez vesti a mesma jaqueta, pano para toda obra. Enquanto na sala eu esperava minha esposa se aprontar no quarto, enfiei a mão no bolso e levei um tremendo susto, deparei com um par de brincos e, vagamente, me lembrei da amante do meu cunhado. Assustado, encaminhei-me à janela que dava para a rua e com toda minha força joguei fora os brincos bem longe. Depois de me aliviar, como minha companheira demorava muito, o que é próprio das mulheres, voltei ao quarto para apressá-la, momento em que ela me disse que só faltava colocar os brincos e os cobrou de mim, dizendo que estavam em meu bolso. Só então lembrei que eu havia devolvido os brincos da amante do meu cunhado e que aqueles que eu havia jogado fora eram os da minha esposa.

A minha amnésia alcoólica já me custou muito caro, minha esposa nunca soube o paradeiro do seu melhor par de sapatos que ela deixou em nosso carro. Mas isto é uma outra história...