A "made in" Alfaiate

— Sube que tu virô dono de budega. Num deu pra trabaiar de alfaiate mair não? - Perguntou Benedito Barbeiro.

— Desde aquela época que quis abrir um comércio para mim. Trabalhei de alfaiate por pouco tempo, serviu pra juntar dinheiro, mas se eu tivesse na profissão até hoje, teria espaço, pois a profissão não acabou. Ela pode ter perdido espaço, mas não o encanto. Um terno ou uma roupa feita exclusivamente para você, não tem preço! Nada substitui o prazer de vestir um terno impecável, bem cortado, ajustado

no próprio corpo.

Cozer sob medida é um dom, uma arte e ainda não está em extinção. Abri uma mercearia em Rio do Braço por muitos anos e com ela, graças a Deus, criei bem toda a minha família: mulher e cinco filhos!

— Vô lhe mostrar uns iscrito sobre esse negóço de alfaiate que seu fio Manzinho fez pra tu quando ele era minino.

— Ah! Eu me lembro, foi no dia 06 de setembro, dia do alfaiate. Ele fez na escola, mas perdi o poema escrito, faz tempo.

— Ah, mas eu achei e guardei. Óia ele aqui.

Recebeu do amigo um velho papel pautado amassado e dobrado, escrito com letras desbotadas na velha máquina de escrever portátil Olivetti Letera 22 que o acompanhou por anos e anos e começou a ler:

O ALFAIATE

Bem firme e afiada

a nau determinada

separa o mar em dois.

A linha em par mergulha

puxada por uma agulha

são golfinhos que brincam.

Emergem e submergem

navegam pelo mar

de infinito tecidos.

Infalível, o corte.

A nau tem comandante.

Roupas que dão destaque

um smoking, um fraque

ou um terno galante

na precisão da métrica,

elegância e estética

e a beleza poética

para encantar-te.

Tesoura, agulha e arte:

e nasce um terno magistral,

impecável e especial,

a “made in” Alfaiate.

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* Esse texto é uma das várias histórias contadas no livro "A Viagem de Cristal" de Osman Matos, publicado em 2017 pela Amazon.com nos formatos e-book e impresso.