Vidas cruzadas
Subi no carro da tia joana com meus dois primos, Andressa e Junior, sentei me ajeitando para colocar o cinto de segurança, puxava e ele estava enroscado, a tia abaixou e entrou dentro do carro para arruma-lo, o carro deu partida subia e descia as ruas de São Camilo, as praças lançavam pelo caminho um cheiro não muito agradável, a cidade era rodeada de águas termais, vindas dos vulcões inativos da cidade.O carro parou e vi uma unica arvore no meio da praça, as pessoas passavam e não lhe davam atenção conversando com alguém ou passos apressados e sua presença embora alta e tronco espesso pouco fora notada, eu a vi e nela um macaquinho no penúltimo galho pulando pra outro e parava a observar de cima as pessoas no seu mundo vestidas de jeans e as moças vestidas com shorts da moda, parecia ser livre, um instante senti me com inveja daquele ser peludo marrom olhos esbugalhados, seus olhos eram parecidos com os meus que eram grandes com cílios longos e delineados dando uma cobertura como se fosse uma varanda, onde me via sentada nos meus sonhos, e as telhas de vidro imaginava eu deixavam a escuridão do céu invadir meu espaço.
O carro subia a Rua Jacarandá, a rua era estreita com as calçadas arborizadas, deixando suas folhas secas esparramadas onde os pneus passavam e as folhas ganhavam vida, eram sopradas para outro canto de outra calcada, uma sensação falsa de que ganharia uma vida perdida. Dentro do carro os primos riam, me irritei com uma dor .Junior me deu um beliscão na perna. Soltei um grito - Ai, isso doeu, ele ria. Virei meu rosto com os lábios apertados de raiva, os olhos encheram de lágrimas.Olhando pelo vidro do carro, aquela paisagem ficara de repente fosca pelas lagrimas dos meus olhos.
Quando chegamos no ponto mais alto o jardim me encantou com as flores multicoloridas várias espécies que não soube dizer seus nomes, e eram lindas. à frente uma casa sem paredes de madeira com pilares que a sustentavam. Entrei nela olhava para todos os lados e via apenas pedras ao redor, o arvoredo, o canto dos pássaros no meio da mata o som vinha a deixar me com gosto da paz, eu nem sabia o que era isso até aquele momento, vivia triste. O que me alegrava era brincar com minha prima e primo, a gente brigava, atentava o outro e estavamos sempre juntos. Naquela tarde foi diferente, não estava com animo para brincadeiras, e pouco estava tolerando Junior que ja havia me chateado, deixando um baita roxo na minha perna.
Meu primo me chamando para acompanhar, eu não queria, ele estava me irritando com suas brincadeiras maldosas, estava correndo pelas trilhas, pulava as pedras na fonte de desejos.Ah Era cheia de moedas, elas brilhavam com o sol da tarde, ali muita gente pagou seus desejos - pensei perguntando a mim mesmo. Ou seria uma forma de agradecer antecipado?...Eu não sabia porque, será que elas também se sentiam só, queriam mais carinho, mais amor, mais atencão, minhas lembranças me levavam a minha avó que me criou até meus quatro anos, o amor e o carinho era dela que eu conhecia. A lembrança veio como uma torrente na minha mente.
Quando ela me devolveu para minha mãe, e eu não entendi porque, ela que era minha mae, me senti abandonada. Vi quando ela abriu o portão da frente de madeira com malas...Comecei a chorar: Vózinha não vai, me leva, não me deixe aqui... De repente um tapa na minha orelha, - Que vozinha o quê, eu sou sua mãe. Me pegou pelo braço direito quase tirando meus pés do chão me levando pra dentro da casa dela. Quando lembrava da minha avozinha eu ficava triste e, tentava não demonstrar, tinha medo de ser castigada pela minha mãe. Aos poucos fui gostando dela, mas ela era muito fria comigo, ela havia se casado de de novo, meu novo pai me dava atenção, sentava comigo para ensinar-me o que eu não conseguia entender, ou fizesse uma arte e as vezes não tinha escutado uma ordem , era muito paciente e quando eu errava minha mãe dizia para dar o castigo que quisesse. Ele me deixava de castigo, mas ela me batia sem dó, pegava uma espada são jorge e lap nas minhas pernas.
Aos meus sete de anos, numa tarde que minha mãe chegou do trabalho foi a casa da minha avo, onde eu ficava a maior parte do tempo quando ela vinha de Minas onde morava com meu avô vinha para passar alguns dias em São Paulo, minha mae entrou pela porta da sala com nosso cachorro chamado de romeu nos braços, ela sentou no sofá com ar bonito toda carinhosa e eu achei que aquela é hora , sentei me ao seu lado encostando minha cabeça no braço dela, ela me empurrou com uma das mãos, dizendo - sai pra lá.Continuou com o romeu nos braços, alisando seu corpinho peludo, ele me olhou como se tivesse sentido piedade de mim.Isso é o que eu queria, na verdade o olhar dele era vidrado na minha mâe nem fez questão da minha presença inicialmente, nem mesmo quando encostei nela.A noite antes de dormir escrevia no meu diário, foi um presente da minha avó para escrever o que tinha vontade.
Um dia minha mãe pegou meu diário, começou a ler, fiquei assustada e me encolhi no canto da cama abraçando minhas pernas enquanto ela lua vi seus olhos ficarem com ar de puro ódio, desfolhava uma a uma com muita raiva. Por um momento pensei que ela ia ver minhas queixas e de repente sentasse do meu lado e fizesse me um cafuné, concordasse comigo e daria chance de ser mãe e filha de verdade, rasq rasq...rasgou com muita fúria, E me deu uma surra.
Meus olhos se abriram como uma daquelas flores vividas, senti o chão, voltei e vi aquela fonte de água corrente banhando as pedras, o brilho das moedas me puxavam pelo coração, Eu e minha mãe nos cruzamos nessa vida, ela deve ter os motivos dela e Eu?
Parei em frente a fonte juntando as duas mãos, fechei meus olhos, meus lábios se abriram num sorriso leve pedi com toda força, um desejo um ponto de encontro nas nossas vidas cruzadas.