PRINCESA DE VERDADE

Meu pai estava gritando novamente.
O motivo? Já estava acostumada com suas brigas repentinas que não prestava mais atenção em suas palavras. Tudo o que eu queria, era que ele ficasse, sem nada mais para dizer, para que poder ficar em paz.
Triste, conclui que aquele dia não era o meu dia de sorte. Ele continuou tagarelando por mais tempo do que necessário, repetindo as mesmas reclamações que eu tinha até decorado.
Finalmente, depois de alguns minutos, que pareceram horas, terminou seu discurso e retirou-se.
Deitei-me na minha cama, que era cheia de babados e maior do que precisava ser, e tentei reunir meus pensamentos.
Fazer parte da família real não era fácil. Um dia era mais exaustivo que o outro. A pior parte, em minha opinião, era ter que lidar com os constantes sermões do meu pai. Nada do que eu fazia, era suficiente. Nunca estava “agindo como uma princesa de verdade”, como gostava de dizer.
Enquanto olhava o teto do meu quarto, esperando o sono chegar, uma ideia veio-me a mente. Não era uma boa ideia, nem a primeira vez que eu tinha pensado nela. Antes a tinha rejeitado por completo. Agora, talvez, por ainda estar chateada, depois da recente briga com meu pai, ela parecia mais e mais atraente.
Eu queria quebrar uma regra. Não importava qual, desde que fosse algo importante o suficiente para chamar a atenção do velho rei. Ele queria que eu fosse perfeita! Iria mostrar-lhe que isso jamais aconteceria.  
Decidida, sai da minha prisão, que chamava de quarto, e fui em direção ao calabouço. Meu pai tinha avisado que eu não poderia entrar, neste local, em nenhuma circunstância. Sorrindo, para mim mesma, sentia-me leve após minha pequena rebelião.
Foi lá que o encontrei.
A última coisa que eu imaginava, quando entrei naquela sala proibida, era encontrar-me cara a cara com um terrível dragão, uma criatura vista apenas em lendas; aquele que ninguém conseguia provar a sua existência. Ele estava bem ali, escondido debaixo do castelo.
No entanto, o que mais me surpreendeu, é que ele tinha o dom da fala.
E foi assim que eu fiz amizade com um dragão.
Dias tornaram-se semanas, semanas tornaram-se meses. Sempre que podia, fugia das minhas responsabilidades para passar alguns minutos com meu amigo.
Mesmo estando preso, era bastante animado. Gostava de contar-me histórias de quando era livre. Eu, que sempre fui mais quieta, ficava apenas o ouvindo falar. De vez em quando, sentia-me confortável o suficiente para contar uma história minha.
Certo dia, solicitou-me que o soltasse.
De algum modo, já esperava que tal pedido, mesmo torcendo pelo contrário. Por mais que não quisesse que fosse embora, decidi que seria egoísta da minha parte deixá-lo preso, só porque não queria perder um amigo. 
Então, pela madrugada, enquanto estavam todos adormecidos, roubei a chave da sela do dragão, do quarto de meu pai.
Antes de deixá-lo ir, fiz prometer-me que não machucaria ninguém do meu reino. Rápido, aceitou minha única condição.
No momento, em que eu o soltei, olhou-me com um olhar de arrependimento e desculpou-se. Sem dizer mais nada, sumiu da minha vista.
Na hora, não entendi. Depois, olhando o meu reino envolvido em chamas e meus súditos gritando de pavor, percebi o que ele quis me dizer.
Com lágrimas nos olhos, arrependi-me de não ter agido como uma princesa de verdade. 
Maria Eduarda Sauer Soares - 15 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 02/10/2020
Código do texto: T7077935
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