284 - O Regresso
Quando regressou de África estava velho, doente e sem gosto por nada. A mulher já velha também e os filhos pareciam nada ter a ver com ele. Era um estranho que vinha, depois de tanta ausência, para retomar as rédeas de tudo e “ repor a ordem que não havia”. António, o mais velho, pousou na mesa as chaves do tractor e, sem dizer nada, colocou o chapéu e saiu. Voltou uns dias depois para levar a roupa e o violão e já só achou a mãe chorosa a fazer ela o que cabia ao outro filho trabalhar. Ninguém ordenhou a vaca e juntaram-na ao bezerro para lhe aliviar do leite as tetas. Uma animosidade tensa andava pela casa toda e o casal trocou, se tanto, meia dúzia de palavras. A quinta começava a tornar prementes os trabalhos sazonais e nem ele dizia nada nem tomava decisões. Doía-lhe a cabeça, arrastava os pés, tinha gelados os dedos. Um dia não se levantou e ao outro pediu que ela lhe trouxesse o caldo à cama. A seguir com febres e tremedeiras, foi levado ao Hospital mais próximo e morreria pouco depois, sem ter tido tempo de repor a ordem que desejava, sem ver filhos nos dois homens que deixou meninos pela aventura de fazer longe a fortuna que não trouxe. Quando embarcou, todos o choraram, depois, arrefecidas as saudades, sem novas nem mandados, foram os três ganhando independência e já não o recordavam. Por fim, Cesário, o marido e pai, era uma lembrança vaga de homem meão ainda forte, de estranho que bom seria que ficasse onde esteve tantos anos longe de casa. A seguir, voltaram todos ao mesmo e havia neles um sorriso novo, outros projectos. Até a mãe aliviar o luto ninguém mexeu em nada mas estava tudo escrito e desenhado. O vinho seria de marca, a nova adega construída, a quinta colocada no mapa da Região. Finalmente.