O sonho do menino
Reunidos estavam os meninos no salão. As canelas cinzentas e enlameadas descreviam bem o bairro de onde vinham.
Uns tinham shorts rasgados, camisetas de gola relaxada e cabelos que parecia haver um bom tempo sem ter notícias de um pente.
Sujos, catarrentos, mas com sorrisos de orelha a orelha. Sabiam que ali seriam acolhidos, sabiam que ali poderiam brincar, se alimentar, tomar refrigerante (!) e ganhar um saquinho cheio de balas no final.
Eram as comemorações do dia das crianças numa casa espírita. Pessoas de todas as religiões como sempre eram muito bem vindas.
As tias convidaram os meninos à prece. Todos silenciaram enquanto uma moça fez uma prece muito bonita e rápida para que eles não dispersassem. Logo começaram as brincadeiras.
Roda o pião pra cá, joga a bolinha pra lá... passa ou repassa... amarelinha e muitas outras atividades divertidas.
Ao final, um momento em que cada um deveria falar dos próprios sonhos. Cada criança se apresentaria e deveria dizer o que gostaria de ser quando crescesse.
Depois de tão agradável manhã, todos podiam sonhar com coisas melhores para suas vidas. Um quis ser médico, o outro quis ser professor, uma menina quis ser atriz e outra doutora.
Mas para surpresa geral um menino disse: “Quando eu crescer eu quero ser preso.”
“Preso? – perguntou a tia assustada. Por que você gostaria de ser preso?”
Mais impactante foi a resposta:
“Tia, meu irmão é preso e lá na cadeia ele bebe água gelada.”