Nada de extraordinário no dia de hoje, exceto minha consulta com a Dra Lyndia. Só de pensar em como sua mãe escolheu seu nome me dá nos nervos. Parece uma mistura de lêndea com dia ou linda com dia. E o tal do Y serve para quê? Dar uma ideia de americano? Será que ela nunca se perguntou por que sua mãe teve essa brilhante ideia? Ou será resignada o suficiente para ver beleza naquilo?
Outro dia a encontrei na rua aqui da capital. Estava de carona com uma amiga, indo pro interior. Sei lá o que me deu. Uma vontade louca de me esconder para que ela não passasse a vergonha de ser exposta tão vulgarmente, com aquela calça de ginástica transparente e aquela blusinha de academia, com uma mensagem de superação. O cabelo desarranjado num coque e uma mochila nas costas. Como assim uma mochila nas costas? Quem usa mochila nas costas são meus alunos de 2º ano do ensino médio, mas pra carregar livros. Pessoas comuns usam bolsas. Se bem que ela não é uma pessoa comum.
O que seria uma pessoa comum? Talvez a explicação utilizada para artigos no português fosse suficiente: aquilo que não é próprio. Mas se não é próprio não seria uma “condução condicionada” e a identidade seria uma lástima? Como olhar para ela hoje, sobre aquele salto alto, com aquelas golas formais tipo colarinho de padre, aqueles óculos discretos e os cabelos absurdamente organizados, fio a fio, como se saíssem de uma máquina de passar? Poderia separar as curvas vistas a olho nu, debaixo daquela calça preta que deixava a mostra suas peças mais íntimas? Será que ela não percebeu isso ao sair de casa? Será que não olha no espelho? E aquele tênis fluorescente em amarelo? Não parece ser a mesma pessoa. Será que eu estou no mesmo caminho?
Ah, já ia me esquecendo, hoje minha avó faz aniversário e quer de presente um passeio de barco. Nessa pandemia, um passeio de barco! Fico zonzo só te pensar. Tenho enjoo de cheiro de lixo, imagine como será esse passeio. Tentei convencê-la a ir num restaurante renomado, mas a velha cabeça dura diz que não quer pegar Covid 19. No barco é impossível não é, vó? O barco deve ser imune! E é! Mas fazer o que, ela é a segunda mulher mais importante de minha vida! Se pedir pra ir de trem pelado, sou capaz! Aliás, por ela daria minha vida. Vou tomar um dramim e imitar Mozart em suas apresentações, aquele olhar parecerá de êxtase, ao menos espero manter as aparências.
Perdi a hora, relógio não despertou e o café fica pra próxima. Padaria só até as 10. Vou de iogurte com granola. Será que a validade está em dia. Partiu geladeira!
Outro dia a encontrei na rua aqui da capital. Estava de carona com uma amiga, indo pro interior. Sei lá o que me deu. Uma vontade louca de me esconder para que ela não passasse a vergonha de ser exposta tão vulgarmente, com aquela calça de ginástica transparente e aquela blusinha de academia, com uma mensagem de superação. O cabelo desarranjado num coque e uma mochila nas costas. Como assim uma mochila nas costas? Quem usa mochila nas costas são meus alunos de 2º ano do ensino médio, mas pra carregar livros. Pessoas comuns usam bolsas. Se bem que ela não é uma pessoa comum.
O que seria uma pessoa comum? Talvez a explicação utilizada para artigos no português fosse suficiente: aquilo que não é próprio. Mas se não é próprio não seria uma “condução condicionada” e a identidade seria uma lástima? Como olhar para ela hoje, sobre aquele salto alto, com aquelas golas formais tipo colarinho de padre, aqueles óculos discretos e os cabelos absurdamente organizados, fio a fio, como se saíssem de uma máquina de passar? Poderia separar as curvas vistas a olho nu, debaixo daquela calça preta que deixava a mostra suas peças mais íntimas? Será que ela não percebeu isso ao sair de casa? Será que não olha no espelho? E aquele tênis fluorescente em amarelo? Não parece ser a mesma pessoa. Será que eu estou no mesmo caminho?
Ah, já ia me esquecendo, hoje minha avó faz aniversário e quer de presente um passeio de barco. Nessa pandemia, um passeio de barco! Fico zonzo só te pensar. Tenho enjoo de cheiro de lixo, imagine como será esse passeio. Tentei convencê-la a ir num restaurante renomado, mas a velha cabeça dura diz que não quer pegar Covid 19. No barco é impossível não é, vó? O barco deve ser imune! E é! Mas fazer o que, ela é a segunda mulher mais importante de minha vida! Se pedir pra ir de trem pelado, sou capaz! Aliás, por ela daria minha vida. Vou tomar um dramim e imitar Mozart em suas apresentações, aquele olhar parecerá de êxtase, ao menos espero manter as aparências.
Perdi a hora, relógio não despertou e o café fica pra próxima. Padaria só até as 10. Vou de iogurte com granola. Será que a validade está em dia. Partiu geladeira!