Sonhos órfãos
Uma manhã no meio do ano de 2012, brilhava como outra qualquer naquele que talvez tenha sido o último ano normal para a humanidade (ainda não se tinha medo da chuva). Os faróis controlavam o trânsito, as pessoas corriam para o trabalho, o camelô aprumava a barraca, o andarilho a carcaça. Mas, os olhos daqueles dois já não se viam mais.
Seus sonhos perambulavam órfãos pela cidade. Forçados a saltar do trem, resistiam a morrer de inanição e imaginavam. Quem sabe por quanto tempo não voltaram juntos para casa ao fim do dia? Cada dia, porém, estavam mais distantes.
Todas as manhãs que se seguiram após aquela, aproximaram olhares, teceram jornadas indiferentes, ataram laços, remendaram histórias. E o sol seguiu nascendo para todos, a cada qual numa esperança. Talvez, nada se tivesse perdido; tirado o fato de que os olhos daqueles dois há muito não se veem.