Ares de um dia abafado

Queria que hoje fosse um dia escuro, chuvoso. Um dia daqueles que tá frio e tu tá em algum lugar, fora de casa, numa praia ou num sítio, qualquer desses lugares que tu pode parar e ficar perto de umas árvores mas a salvo da chuva.

Não importa o que eu faça hoje, o quanto o sol bata nos meus olhos e faça a retina queimar, o quanto o suor escorra nas minhas costas, não importa. É nesse lugar que eu to.

To com frio nos ossos, olhando pras árvores e as gotículas da chuva caindo nas folhas e escorregando pra cair, de novo, em outra folha, e escorregar e cair até encontrar o solo fofo.

To ali sentada meio desconfortável em uma cadeira ou sofá, daqueles que não são de casa.

Às vezes olho pras nuvens escuras, passando como lesmas que se a gente fica olhando parecem andar tão devagar, mas se olhar pro lado e olhar de novo, vai ter perdido ela de vista.

Se eu to num lugar alto, olho pras diferentes cores das árvores. Os verdes escuros, predominantes, e os verdes claros aqui e ali. Todas paradas, num dia de chuva daqueles sem vento, um que outro trovão rolando, e a chuva paciente. Sem pressa.

Sei que esse lugar existe em algum lugar no mundo, em algum tempo. Sei que são vários lugares em vários tempos. E sei, sei de verdade, que a existência dele só existe em mim, envidraçado no tempo.

Patrinês
Enviado por Patrinês em 12/09/2020
Código do texto: T7061622
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