Ares de um dia abafado
Queria que hoje fosse um dia escuro, chuvoso. Um dia daqueles que tá frio e tu tá em algum lugar, fora de casa, numa praia ou num sítio, qualquer desses lugares que tu pode parar e ficar perto de umas árvores mas a salvo da chuva.
Não importa o que eu faça hoje, o quanto o sol bata nos meus olhos e faça a retina queimar, o quanto o suor escorra nas minhas costas, não importa. É nesse lugar que eu to.
To com frio nos ossos, olhando pras árvores e as gotículas da chuva caindo nas folhas e escorregando pra cair, de novo, em outra folha, e escorregar e cair até encontrar o solo fofo.
To ali sentada meio desconfortável em uma cadeira ou sofá, daqueles que não são de casa.
Às vezes olho pras nuvens escuras, passando como lesmas que se a gente fica olhando parecem andar tão devagar, mas se olhar pro lado e olhar de novo, vai ter perdido ela de vista.
Se eu to num lugar alto, olho pras diferentes cores das árvores. Os verdes escuros, predominantes, e os verdes claros aqui e ali. Todas paradas, num dia de chuva daqueles sem vento, um que outro trovão rolando, e a chuva paciente. Sem pressa.
Sei que esse lugar existe em algum lugar no mundo, em algum tempo. Sei que são vários lugares em vários tempos. E sei, sei de verdade, que a existência dele só existe em mim, envidraçado no tempo.