A NEGRA CICÍ
A NEGRA CICÍ
Autor – Flavio Alves
No ano de 1980, consegui meu primeiro emprego com registro em carteira em uma fábrica de tecido, no setor da qualidade. Após minha demissão, consegui emprego em um posto de gasolina na área de escrituração fiscal. Foi nesse período que tive que fazer um curso no centro de Recife, para aprimorar conhecimentos na nova função. O edifício onde fiz este curso chama-se, São Cristóvão e o mesmo fica localizado às margens do rio Capibaribe na rua da Aurora. Foi lá que conheci Cicí, uma negra com aproximadamente trinta anos, sempre bem vestida, cabelos arrumados, batom e unhas sempre bem pintadas, ela era bonita, mas odiava a própria raça. O curso acontecia no primeiro andar e todas as janelas era de vidro, então podia-se ver todo o movimento na rua. Uma certa vez, Cicí estava na janela vendo o movimento e me chamou, ela falou.
- Olha só que desgraça vai passando ali, eu olhei e falei, onde? E ela falou.
- Estou te mostrando aquele pedaço de carvão, e além de ser negra, é uma nojenta que não se cuida. Ela olhou suas mãos, seu corpo, e falou.
- Eu sou negra, mas na realidade eu me detesto, odeio essa minha cor, e quem pensar desigual de mim, eu não estou nem aí. E foi aí que eu falei.
- Eu não estou te entendendo Cicí, minha mãe é negra e meu pai branco, sei que sou pardo, mas se eu fosse mais escuro não teria problema algum. Ela foi logo dizendo.
- Se for contra minha opinião, vou arrumar outra professora pra você, e saiu da janela sorrindo.