Debaixo da terra
"Oh, meu Deus, não consigo respirar!", pensava Agnaldo, após acordar sem saber onde estava. Percebia apenas uma escuridão absoluta e que ao tentar esticar os braços e as pernas esbarrava em um obstáculo de madeira. Por mais que sufocasse, ele tentou gritar. Logo, percebeu que estava dentro de um caixão, provavelmente fora enterrado vivo. Se lembrou vagamente de ter passado muitos dias em um hospital. Sua família ia visitá-lo, mas ele alternava entre sono profundo e semiconsciência. E, agora, ele gritava, forçando desesperadamente a tampa do caixão, na esperança de que, lá fora, alguém o ouvisse.
Agnaldo tinha quarenta e seis anos, era casado com Maria, de quarenta; eles eram pais de três filhos: João, o mais velho, de vinte anos, Carlos e Rita, respectivamente com quinze e treze anos. Exercia a profissão de mecânico, enquanto Maria era professora. Agnaldo amava a sua família e fazia de tudo pelo seus filhos. Mas, neste momento, ele se via prestes a morrer de uma das maneiras mais horríveis.
"Se eu tivesse uma ajudinha para me tirar daqui!", pensava, aflito. E o mais angustiante para ele era que ali, acima daquela terra que o condenava para sempre, talvez ninguém nunca suspeitasse de nada.
Depois de usar o seu último alento para gritar desesperadamente, Agnaldo pensou que seria o seu fim, morreria de forma cruel e desesperadora. Mas eis que ele ouviu barulhos cada vez mais fortes vindos do lado exterior, de maneira que o caixão também parecia se mover. Então, um último estrondo e a tampa do ataúde se abriu. Subitamente, ele viu a luz do dia, e um homem com uma barba rala e grisalha, segurando uma pá, gritava: "Ajuda, ajuda... Santo Deus... Ajuda...".
Aliviado, como jamais sentira em sua vida, Agnaldo teve a certeza de que havia sobrevivido. Se lembrou de ter visto outras pessoas se aproximarem, funcionários do cemitério e enfermeiros, e de ser colocado numa ambulância.
Sentindo-se muito melhor que na situação anterior, ele acordou na cama de um hospital. A primeira voz que ouviu foi a de Ritinha:
— Papai... você acordou... eu te amo, papai!
Agnaldo, fazendo esforço para falar, mas feliz de ver sua filha novamente, numa expressão de carinho, disse:
— Ritinha, o papai jamais vai te abandonar...
Nesse momento, Maria e os outros dois filhos entraram no quarto.
— Agnaldo... Meu Deus, é um milagre... — dizia Maria, enquanto as lágrimas escorriam abundantes por sua face.
Todos se abraçavam, chorando de felicidade.
— Os médicos disseram que você estava morto, pai, isso é um absurdo, um erro médico inaceitável! — disse João, que cursava o primeiro ano de Direito.
— Eu pensei que nunca mais ia vê-lo, papai, mas agora estou muito feliz — disse Carlos, inundado de alegria.
— Eu também estou feliz, meus filhos... — dizia Agnaldo, emocionado — Entretanto, não me lembro muito bem do que aconteceu.
— Você sofreu um acidente de carro quando voltava da casa do tio Júlio que mora no interior — explicou Maria.
Agnaldo, nesse momento, de fato se lembrava. Havia visitado um tio que não via há muitos anos, e, na volta, pego a estrada durante a noite. Ele não tinha bebido álcool, até porque não bebia, mas foi numa curva escura da estrada que ele se lembrava de ter perdido o controle do carro e, em seguida, a consciência.
— Você bateu a cabeça com muita força e ficou em coma por muitos dias, até que os médicos disseram que você estava morto — esclareceu Maria.
Quando lembravam que tinham realizado o velório de Agnaldo e visto ele ser enterrado sem suspeitarem que pudesse estar vivo, todos se entristeciam. Todavia, a felicidade por ele ter retornado era maior que a tristeza.
Agora, além de impressionado, Agnaldo se sentia realmente feliz. Amava a sua família. Já fazia seus planos para o futuro. Dava-lhe satisfação o ter sobrevivido a tudo isso. "É uma história que ainda contarei dando risada!", pensava, sentindo um contentamento interior. Contudo, em meio a toda essa felicidade, ele começou a sentir-se sonolento, e aos poucos foi perdendo a consciência... "Vá em paz!", ele pensou ter ouvido.
Nesse instante, numa das valas do cemitério, enterrado há mais de um dia, dentro de um caixão escuro, o corpo de Agnaldo deu seu último suspiro; de modo que ele não pertence mais ao mundo dos vivos, está morto, efetivamente. Que Deus o tenha.