Ilusão
Com olhar pesado e demonstrando cansaço o homem vai seguindo, andando rapidamente, desvencilhando-se dos desligados transeuntes que cruzam seu caminho.
- Estúpidos - pensa consigo - como podem estar tão dispersos?
Não encontra resposta.
Por acaso já gostou de perder tempo? se pergunta. Não, nunca gostou.
Desde criança abstinha-se das brincadeiras de seus colegas para estudar. Seu discurso? Não queria perder tempo. E a adolescência não o mudou. Enamorou-se de uma linda morena com olhos amendoados, mas desvencilhou-se rapidamente; não podia perder tempo com essas frivolidades. A juventude o mudou? Impossível. Ele impassível, manteve seu discurso, abrindo mão dos deleites da mocidade; Não iria perder tempo em aventuras supérfluas. Namorou rapidamente, se casando logo em seguida. Para que perder tanto tempo esperando? Foi sua resposta à mãe da noiva que, desconfiada, o questionou sobre os motivos da repentina união. Os filhos não tardaram a vim, afinal, não podiam perder nem um minuto sequer.
Imerso nesses lembranças e com pressa para ultrapassar os vagarosos caminhantes a fim de poupar tempo, não nota o sinal fechado.
O carro o acerta, lançando-o ao alto.
Ainda em choque, jogado ao chão, sentindo a vida se esvair, reflete:
Foi feliz ? Não, não foi.
Enquanto seus olhos sem vida fitam o céu, ocorre-lhe um último pensamento: Quanta ironia !
Está morto.