O Homem dos Anjinhos
O Homem dos Anjinhos
Cemitério Municipal de Bernardino de Campos/SP/ Avenida da Saudade, s/n
Em 1939, um jovem italiano dizia a um amigo: “Deixei a Itália com menos de um mês de nascido. Nem mesmo sei se minha mãe colocou meus pés no chão de minha pátria!” “Não entendo os brasileiros? Aqui tudo é fartura! Terras, florestas, água em abundância, nada falta! Sempre digo: Sou tão brasileiro que qualquer outro!” Essas palavras foram do jovem Antonio Zizzi.
Quando chegou da Itália, morou na Fazenda Henrique Cunha Bueno com a família, no interior da cidade de São Paulo.
Tão logo que atingiu a maioridade já estava morando na cidade de Bernardino de Campos. Era feliz! Logo cedo começou a construir casinhas de madeira. Dizia: “Vou ser construtor!”
O sonho começou a se realizar. “Seu Antonio? O senhor sabe fazer muro? Ele caiu! Sim, seu Antenor! Começo amanhã!”
Muros, telhados com goteiras, vazamento em torneiros, pinturas, etc, era com o seu Antonio.
Com o passar do tempo, como não sabia escrever, pediu a filha Terezinha que o ensinasse a ler e a desenhar plantas de casa.
Pouco mais de um ano as pessoas deixavam de procurar seu Antonio que arrumava muros, telhados com goteiras, vazamento em torneiros, pinturas, etc.
Diziam: “Quando o senhor termina esta casa? Dois meses no máximo!”, respondia Antonio. “E aí seu Antonio! O senhor fez essa coluna no estilo dórico? " Sim, aprendi com minha filha! “Que beleza, seu Antonio! Que harmonia! O senhor uniu a arte por filosofia! Buscou a relação do homem com o divino? O senhor é grego? Não, falava Antonio. Sou mais brasileiro que qualquer outro!”
Anos se passaram. Casas construídas, famílias felizes, crianças brincando nos jardins...enfim, Antonio ficou feliz! Realizou seu sonho!
Mas uma história se perdeu no tempo. Nas horas vagas, Antonio chamava as filhas, Terezinha e Aparecida, para ficarem de joelhos com as mãos em prece, como anjinhos.
Antonio pegava o gesso e olhando para as filhas, modulava anjinhos com mãos em prece, com mãos para os céus, etc.
Depois que secavam dirigia-se até à Rua da Saudade onde ficava o Cemitério Municipal da cidade. Lá chegando levava esses anjinhos e os colocava nos túmulos das crianças, fazia uma prece e voltava para casa.
Em tempo: Antonio Zizzi foi meu avô por parte materna. Além de dizer que era mais brasileiro que qualquer outro, era apaixonado pelo clube Palestra Itália, hoje Palmeiras. Foi um homem daqueles tempos em que todos se sentavam a mesa. Claro! Ele sempre na cabeceira.