Noite ilusória

Deitado no chão, escuta o vento forte no telhado, a cerâmica gelada em minha bochecha e o cheiro de vômito. Estou doente, sim estou doente há muito tempo, deitado aqui e agora no chão da sala, observando entre a as brechas da porta na esperança que chegue alguém para me ajudar, fico aqui, me torcendo de dor, escuto vozes, som de motos, e o barulho das máquinas do serviço. Talvez eu esteja ficando louco.

Quero me levantar, ir ao banheiro, mas não consigo, é uma sensação confusa, não sei se são minhas pernas e meus braços que estão sem forças ou se é meu corpo inteiro que está pesando toneladas, fico deitada, deitado na esperança que chegue alguém, eu quero que chegue alguém. Tento erguer minha cabeça para olhar o relógio que está em cima de mim e observo os ponteiros um sobre o outro marcando meia-noite, já fazem 6 horas que estou deitado aqui na cerâmica do chão da sala, não chegará ninguém, quem poderia chegar? eu não espero visitas, eu moro sozinho, e foi isso que eu escolhi, nos finais de semanas recebo muitas visitas, tem cerveja, carne, almoço, pó... É uma tremenda festa, uma base de 10 pessoas, os parceiros rindo, as mulheres dançando exibindo seus corpos, e eu dando sorrisos falsos e observando tudo, e penso agora depois de tudo aquilo "cadê todo mundo?", Mas já me acomodei com isso tudo, bebemos, comemos, brincamos, rimos, cheiramos, curtimos, mas depois, no final, eles se despedem e cruza uma porta e eu fico aqui na mesma angústia de sempre.

Depois de 6:30 deitada na cerâmica do chão da sala, vou me arrastando lentamente para o banheiro, ergo minha mão direita e abro o chuveiro, tomo um banho ali mesmo acocorado, sentindo a água cair sobre minha cabeça, eu ainda vestido, começo me recompor, me levanto, retiro minhas roupas, e continuo tomando banho, me segurando com as duas mãos na parede, deixando a água cair na minha cabeça e escorrer pelo meu corpo depois de uma hora desse processo, estou novo novamente, sem esperas de ajudas, sem rancor, sem remorso das escolhas que fiz, eu ergo minha cabeça, sentindo a água caindo sobre o meu rosto, digo "eu escolhi isso tudo para mim, eu tenho que suportar ".

Volto para cama e me deito, já são 1:30 da manhã e eu aqui deitada, zonzo, com mal-estar e uma dor de cabeça infernal, me pergunto "quando é que vai amanhecer o dia, para acabar isso tudo ".

Marcelo Horlmes
Enviado por Marcelo Horlmes em 31/08/2020
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